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      Governo Lula monta pacote emergencial para conter perdas com tarifaço de Trump de 50% sobre exportações

      Medidas incluem compras públicas, crédito via BNDES e ajuda a setores como carnes, frutas e café, afetados por sobretaxa dos EUA

      Fernando Haddad e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entra em vigor nesta quarta-feira (6), atingindo em cheio as relações comerciais entre Brasil e EUA. De acordo com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a medida impactará diretamente 35,9% das exportações brasileiras ao mercado norte-americano, gerando preocupação especialmente no agronegócio e nas indústrias de alimentos, calçados e móveis.

      A informação foi publicada pelo jornal O Globo, que detalha os efeitos da ordem executiva de Trump. A nova tarifa representa uma sobretaxa de 40%, somando-se aos 10% já em vigor desde abril e elevando o imposto total para 50% sobre os produtos brasileiros.

      Quais produtos escapam da sobretaxa - Apesar do aumento agressivo, cerca de 700 itens da pauta exportadora brasileira foram excluídos da tarifa extra. Ficam isentos da nova alíquota produtos considerados essenciais para a indústria e mercado dos EUA, como aviões da Embraer, turbinas, pneus, motores aeronáuticos, suco de laranja, castanhas, celulose, ferro-gusa, petróleo e minério de ferro. Essas exceções representam 44,6% do volume total exportado pelo Brasil aos EUA, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

      Setores mais prejudicados - Fora da lista de exceções, os impactos são significativos. Exportações de café, cacau, carne bovina, frutas, têxteis, calçados e móveis passarão a pagar os 50% de tarifa. Somente esses produtos somaram US$ 14,5 bilhões em vendas para os EUA em 2024, segundo o MDIC.

      Outros 19,5% da pauta exportadora já sofrem tarifas específicas impostas por razões de segurança nacional, como é o caso do aço, alumínio e cobre, que pagam até 50% de taxa nos termos da Seção 232 da legislação americana.

      Café e carne bovina: os maiores alvos - O setor cafeeiro será duramente atingido, relata o jornal O Globo. Em 2024, o Brasil exportou quase US$ 2 bilhões em café para os Estados Unidos. Segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), a tarifa deverá gerar aumento de preços e perda de competitividade. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) lembra que 34% de todo o café consumido nos EUA tem origem brasileira.

      Já a carne bovina representa outra frente de preocupação. Segundo a Abrafrigo, os EUA foram o segundo maior mercado para o Brasil em 2024, com 532 mil toneladas exportadas, equivalentes a US$ 1,6 bilhão. A Abiec projeta perdas de até US$ 1 bilhão no setor. A Minerva Foods, uma das maiores empresas do ramo, calcula uma redução de até 5% em sua receita líquida.

      Frutas sob risco - A Abrafrutas também se manifestou sobre os impactos negativos. Para a associação, a nova tarifa ameaça a competitividade de produtos como manga, uva e açaí, que juntos representam 90% das exportações brasileiras de frutas aos EUA. A entidade alerta para “graves impactos” no setor.

      Governo Lula prepara plano emergencial - Sem uma interlocução direta com a Casa Branca, o governo Lula adotará medidas emergenciais para mitigar os danos. Um programa de compras públicas será implementado para absorver a produção de itens perecíveis, como pescados, frutas e mel, que perderão mercado com o tarifaço. As empresas afetadas foram convocadas a enviar listas dos produtos que não serão mais exportados, com preços mínimos para venda ao governo.

      Além disso, o BNDES prepara uma nova linha de crédito para o agronegócio, com juros subsidiados pelo Tesouro e foco em capital de giro e abertura de novos mercados. A expectativa é de que garantias entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões possam gerar até R$ 20 bilhões em financiamentos.

      Também está em estudo um programa de redução de jornadas e salários, com compensação governamental da renda, voltado aos setores com queda imediata na produção.

      Lula critica tarifaço e defende soberania mineral - Durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o presidente Lula condenou a política tarifária dos EUA e disse que não pretende ligar para Trump: “Não vou ligar para Trump para falar da questão comercial porque ele não quer falar”.

      No mesmo encontro, Lula destacou que os minerais críticos brasileiros não seguirão o mesmo caminho de exploração predatória de outros períodos:

      “Durante séculos, a exploração mineral gerou riquezas para poucos e deixou rastros de destruição para muitos. Contamos com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda de níquel, grafitas em terras-raras, a terceira de manganês e bauxita. Estamos construindo uma política nacional que vai garantir que a exploração desses recursos traga ganhos ao povo brasileiro”.

      Estratégia será negociar, sem ceder à pressão política - Embora a resposta imediata do governo seja conter os efeitos da medida, o foco principal continuará sendo o diálogo. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a intenção é buscar uma reaproximação com o Tesouro norte-americano, evitando vincular a política comercial às tensões políticas provocadas pelas críticas de Trump ao STF.

      "O presidente dispõe dos instrumentos necessários, que vão ser utilizados para socorrer essas famílias prejudicadas por uma agressão que já foi chamada de injusta, de indevida, de não condizente com os 200 anos de relação fraterna que nos liga ao povo dos EUA”, afirmou Haddad.

      Segundo a ministra do Planejamento, Simone Tebet, cada setor será atendido conforme o nível de impacto. Ela afirmou:

      “Cada caso, cada setor, vai ter determinado tipo de benefício, a depender do quanto e como ele foi atingido. Vamos aguardar amanhã (hoje)”.

      Enquanto a maior sobretaxa já aplicada por Trump a um país começa a valer, o governo brasileiro vê no “dia D” das tarifas não um fim, mas o início de uma nova fase de disputa comercial, com medidas emergenciais internas e negociações futuras para tentar reverter os danos.

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