Peso argentino cai a mínima apesar de apoio dos EUA
Moeda recua antes de eleição crucial para Milei, mesmo após compras do Tesouro norte-americano e acordo de swap de US$ 20 bi
247 - O peso argentino voltou a registrar forte desvalorização nesta segunda-feira (20), mesmo após sucessivas intervenções financeiras dos Estados Unidos. Segundo o Financial Times, a moeda encerrou o pregão cotada a 1.477 por dólar, queda de quase 1% e novo piso histórico, abaixo do nível atingido antes do início das compras norte-americanas no começo de outubro.
De acordo com o jornal britânico, o Tesouro dos EUA já teria adquirido cerca de US$ 400 milhões em pesos desde 9 de outubro, embora o montante não tenha sido confirmado oficialmente por Washington nem por Buenos Aires. A medida foi acompanhada do anúncio de uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões entre os dois países, cuja assinatura foi confirmada nesta segunda-feira pelo Banco Central da Argentina, sem detalhamento das condições.
Eleições aumentam pressão sobre o mercado
A crise ocorre a menos de uma semana das eleições legislativas de 26 de outubro, consideradas decisivas para o governo do presidente libertário Javier Milei. Após derrotas em pleitos locais no mês passado, o mercado passou a projetar maior risco político e acelerou a corrida por dólares, na tentativa de se proteger de uma possível derrota governista.
“O mercado tem demandado dólares de forma muito intensa e isso vai continuar até termos os resultados das eleições e maior clareza sobre a taxa de câmbio”, afirmou Salvador Vitelli, chefe de pesquisa do Romano Group, consultoria econômica argentina.
Intervenções não contêm fuga para o dólar
A ofensiva liderada por Scott Bessent, secretário do Tesouro norte-americano, não tem sido suficiente para conter a expectativa de desvalorização. Operações no mercado offshore, conhecidas como non-deliverable forwards, já precificam um peso ainda mais fraco nos próximos meses.
Bessent declarou, em entrevista televisiva recente, que o peso estava “subvalorizado” e que sua estratégia era “comprar na baixa e vender na alta”. No entanto, contratos de dois meses negociados nesta segunda-feira indicam que a moeda argentina pode ultrapassar a marca de 1.600 por dólar nesse período.
Reservas críticas e temor de desvalorização
Com reservas internacionais líquidas abaixo de US$ 5 bilhões, segundo estimativas do Romano Group, cresce a percepção de que Milei pode ser forçado a rever a atual banda cambial logo após a eleição. Apesar de um leve ganho nos títulos argentinos denominados em dólar, os papéis seguem negociados muito abaixo dos níveis registrados quando a ajuda dos EUA foi anunciada pela primeira vez.
O quadro reforça o desafio do governo Milei em convencer investidores de que conseguirá estabilizar a economia no curto prazo, enquanto o país enfrenta instabilidade política e volatilidade cambial às vésperas de uma votação decisiva.


