Peso argentino sofre nova queda, e apoio dos EUA é visto como insuficiente
Intervenções de Scott Bessent não convencem e a confiança em uma recuperação do peso continua a cair
247 - A desvalorização do peso argentino continua a preocupar a população e analistas financeiros, que não acreditam que as tentativas do governo dos Estados Unidos de evitar uma queda ainda mais acentuada da moeda local irão surtir efeito. Embora o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, tenha adotado medidas para conter a desvalorização — como a compra de pesos e a tentativa de justificar a moeda como "subvalorizada" — a confiança nas ações do governo norte-americano está cada vez mais abalada. Com a iminente realização das eleições legislativas em 26 de outubro, muitos argentinos apostam que o presidente Javier Milei será forçado a permitir que a moeda despenque ainda mais, após o pleito.
Em entrevista ao Bloomberg, Ezequiel Asensio, gestor de portfólio da Valiant Asset Management, que há mais de 30 anos negocia na Argentina, criticou a eficácia das intervenções do governo dos EUA: “Os anúncios de Bessent têm retornos marginais decrescentes: cada um dura cada vez menos.” Asensio argumenta que, mesmo com o fluxo de dólares enviados pelos Estados Unidos, o mercado simplesmente não acredita que as ações do secretário possam estabilizar a moeda. A desvalorização do peso continuou mesmo após a primeira onda de apoio de Bessent, registrada em setembro, e a moeda perdeu valor contra o dólar quase diariamente desde então.
Outro fator que agrava a crise da moeda argentina é a crescente demanda por dólares no país. De acordo com estimativas de participantes do mercado, os argentinos estão comprando cerca de 300 milhões de dólares por dia, refletindo um movimento de fuga de capitais que não parece ter fim. A falta de confiança nas políticas do governo de Milei, aliada ao agravamento da inflação — que ultrapassou 12% desde abril — alimenta a aversão à moeda local. A alta nos juros de curto prazo, que alcançaram até 157%, também contribui para a desestabilização da economia, ampliando a incerteza e dificultando o acesso a crédito para empresas e cidadãos.
A intervenção financeira dos EUA, com um pacote de resgates de até 40 bilhões de dólares, tem sido vista como um paliativo para a crise. Porém, especialistas como Lucio Arrocha, estrategista do StoneX, são céticos quanto à eficácia da medida: “A depreciação é inevitável. A única questão é saber qual será a escala do dano se uma derrota eleitoral de Milei intensificar a fuga de capital.” A situação é comparada por alguns analistas à crise do Reino Unido em 1992, quando George Soros apostou contra a libra esterlina e obteve um retorno de cerca de 1 bilhão de dólares.
Em meio a esse cenário, Javier Timerman, sócio-gerente do AdCap Grupo Financiero, vê as tentativas de Bessent de segurar o peso como uma repetição de um erro histórico. “Todos os argentinos, investidores e analistas, acreditam que a taxa de câmbio precisa ser ajustada, e que não haverá atividade econômica enquanto as taxas e a taxa de câmbio permanecerem nesses níveis,” afirmou Timerman.
Embora o governo argentino tenha conseguido rolar parte de sua dívida interna, o impacto das medidas do Tesouro dos EUA é limitado. A redução das reservas cambiais do país e o aumento das taxas de juros resultam em um cenário de alta pressão econômica, o que levanta dúvidas sobre a sustentabilidade das intervenções a longo prazo. Miguel Kiguel, ex-secretário da Fazenda da Argentina, é enfático: “Isso não pode continuar por muito mais tempo. As pessoas ainda acreditam que a intervenção vai durar até as eleições, mas depois disso ninguém sabe o que vai acontecer.”


