Governo do Equador suspende diálogo com indígenas
Decisão ocorre em meio à continuidade dos protestos contra aumento de impostos e combustíveis, que já deixaram mortos e centenas de feridos
247 - O governo do Equador anunciou a suspensão da instalação da mesa de diálogo com representantes indígenas após a continuidade das mobilizações que tomam conta do país desde o final de setembro. Em comunicado oficial, o Ministério do Governo acusou os movimentos sociais de descumprirem os compromissos firmados em encontros anteriores, informa a Prensa Latina.
Na última semana, o ministro do Interior, John Reimberg, havia se reunido com dirigentes da União de Organizações Indígenas Camponesas de Cotacachi (UNORCAC) e da Federação dos Povos Kichwa da Serra Norte do Equador (FICI), no município de Otavalo, província de Imbabura. Após o encontro, o Executivo anunciou “o fim da greve” e informou que as negociações começariam nesta segunda-feira (20). No entanto, diversas comunidades mantiveram os bloqueios de estradas e a mobilização, o que levou o presidente Daniel Noboa e sua equipe a endurecerem o discurso.
Condições rejeitadas pelo governo
Segundo o comunicado, as demandas apresentadas pelos indígenas “alteram os termos previamente acordados, mudam os atores envolvidos no diálogo e violam os compromissos construídos de forma responsável e de boa-fé”. A nota reforça ainda que “não há condições para o diálogo”, uma vez que “as estradas não foram limpas, os manifestantes não se retiraram e continuam a praticar ações violentas”.
O Executivo também afirmou que “não aceitará pressões nem chantagens” e prometeu agir “com firmeza, dentro do marco da lei, para garantir os direitos da maioria dos equatorianos que querem viver em paz”.
Protestos se espalham pelo país
As manifestações, que tiveram início em 22 de setembro na província de Imbabura, ganharam força em outras regiões. Bloqueios e protestos foram registrados em Quito, Cuenca, Loja, Guayaquil e em diversas cidades do interior. O principal alvo da revolta é o aumento do preço do diesel, além da elevação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 12% para 15%, medida que o governo justifica como necessária para financiar ações de combate à insegurança.
Na Amazônia, povos indígenas decidiram permanecer mobilizados de forma permanente após uma assembleia extraordinária que reforçou o descontentamento com a política econômica e social de Noboa.
Mortes, repressão e nova Constituição
No último domingo (19), estradas permaneceram fechadas em três províncias. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) denunciou repressão contra comunidades, que teria resultado em três mortes — duas delas por disparos de projéteis — além de centenas de feridos.
Além das críticas ao aumento dos combustíveis e impostos, a CONAIE incluiu entre suas pautas a rejeição ao processo consultivo marcado para 16 de novembro. Na data, os equatorianos devem responder sobre a proposta do presidente Noboa de convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição.
As tensões indicam que a crise social no Equador está longe de ser resolvida, com um impasse crescente entre governo e movimentos indígenas diante de um cenário de forte instabilidade.