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Equador chega à quarta semana de protestos populares

Manifestantes indígenas mantêm bloqueios e marchas contra medidas econômicas, enquanto denúncias de violações de direitos humanos aumentam no país

Protestos populares no Equador entram na quarta semana (Foto: Prensa Latina )

247 - Os protestos que tomam conta do Equador já completam quatro semanas sem qualquer avanço em negociações entre o movimento indígena e o governo do presidente Daniel Noboa. Apesar dos apelos da Igreja Católica, do meio acadêmico e de organizações internacionais, não há sinais de diálogo entre as partes. A informação é da agência Prensa Latina.

As manifestações começaram em 22 de setembro, após o fim de subsídios governamentais que mantinham preços de combustíveis, e se espalharam por diversas províncias. A maior concentração, no entanto, ocorre nas montanhas do norte, onde há bloqueios de estradas, marchas e confrontos com forças de segurança. Os manifestantes também exigem melhorias nos setores de saúde e educação, além da redução do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que subiu de 12% para 15% em uma tentativa de financiar o combate à violência — problema que persiste sem melhora significativa.

Prisões, mortes e acusações de terrorismo

O Ministério do Interior registrou até agora 118 prisões relacionadas aos protestos. Entre elas, 12 pessoas acusadas de terrorismo. No dia 7 de outubro, cinco manifestantes chegaram a ser detidos sob suspeita de ataque à comitiva presidencial na província de Cañar, mas foram liberados por falta de provas. O episódio mais grave foi a morte de Efraín Fuerez, membro da comunidade Kichwa, atribuída à repressão policial.

Apesar da pressão popular, o Executivo mantém a decisão de elevar o preço do diesel, defendendo que a medida é necessária para estabilizar as contas públicas e direcionar recursos a setores vulneráveis.

Reações da sociedade e críticas ao governo

Analistas e atores políticos têm se posicionado sobre a crise. O sociólogo Hernán Reyes afirmou em rede social: “O Equador está indignado, protestando pacificamente contra o engano, a corrupção e a violência de Daniel Noboa, alguém que nem mesmo o feriado ajudou a impedir os protestos.”

Já a Aliança de Organizações de Direitos Humanos denuncia mais de 250 violações desde o início das mobilizações. Em Quito, manifestantes relataram “repressão excessiva” por parte da polícia, que utilizou gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral para dispersar marchas na capital.

O prefeito da cidade, Pabel Muñoz, também criticou a operação: “Há um uso excessivo da força. O país precisa de uma solução urgente e estrutural para as demandas sociais.” O ministro do Interior, John Reimberg, respondeu afirmando que Quito estava “pacífica” após a ação dos militares e policiais.

Governo endurece discurso contra indígenas

Para o governo, os manifestantes são “vândalos” e “terroristas”, chegando a associá-los ao crime organizado. A Confederação Nacional dos Povos Indígenas (CONAIE), no entanto, rejeita as acusações. Noboa sustenta que não há razão para negociar com líderes indígenas como Leonidas Iza, ex-presidente da organização, que classificou como representantes de uma “minoria derrotada nas urnas”.

O consultor político Décio Machado, em entrevista à Rádio Pichincha, avaliou que a estratégia do governo é desgastar o movimento: “O objetivo é derrotar a organização indígena exaurindo-a, estigmatizando sua liderança, perseguindo-a, reprimindo-a e provocando uma reação violenta da base.”

Enquanto o impasse persiste, o país segue imerso em uma crise social marcada por tensão, repressão e ausência de soluções políticas concretas.

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