Gestão Milei combina crise econômica com narcoescândalo

247 – Em artigo publicado no jornal argentino Página/12, o jornalista Luis Bruschtein expôs as conexões entre o deputado José Luis Espert e o empresário argentino-norte-americano Federico “Fred” Machado, acusado pela Justiça dos Estados Unidos de liderar uma rede internacional de narcotráfico, lavagem de dinheiro e estelionato. A revelação lança sombras sobre a decisão do presidente Javier Milei de manter Espert como cabeça de lista da coligação La Libertad Avanza na província de Buenos Aires, mesmo diante de provas e acusações graves.

Segundo a investigação, a Procuradoria do Texas apresentou documentos comprovando que Espert recebeu, pelo menos, 200 mil dólares de Machado, além do uso de um avião particular e de uma caminhonete blindada. “Segundo se investiga — indicou uma nota de Página/12 —, sob a fachada de sua empresa South Aviation, com sede na Flórida, comprava aviões de maneira fraudulenta, utilizava registros falsos para ocultar sua titularidade e depois os levava a Colômbia, Venezuela ou México para contrabandear grandes carregamentos de cocaína para os Estados Unidos”.

Apesar da gravidade das denúncias, Milei decidiu proteger Espert e mantê-lo na linha de frente da disputa eleitoral. O deputado tentou se defender afirmando que não conhecia todos os empresários que financiaram sua campanha em 2019. No entanto, Clara Montero Barre, ex-responsável pela imprensa de Espert, desmentiu a versão: afirmou que o político se reuniu diversas vezes com Machado, que inclusive participava da definição de estratégias de campanha.

Espert ainda tentou transferir responsabilidades para José Bonacci, apoderado do partido UNITE. Mas Bonacci também negou qualquer envolvimento com o manejo do dinheiro. Para completar, a versão final do deputado foi que teria recebido pagamentos de uma mina na Guatemala, também controlada por Machado, que é acusado de usar o empreendimento para lavar dinheiro e realizar mineração ilegal.

Além da ligação com Espert, Machado teria financiado campanhas presidenciais na Guatemala, como a de Jimmy Morales e Alejandro Giammattei, ambos posteriormente acusados de corrupção. O empresário cumpre prisão domiciliar há mais de três anos em uma mansão de seu primo Claudio Ciccarelli, marido da deputada libertária Lorena Villaverde, detida nos Estados Unidos em 2017 por porte de cocaína.

A lista de personagens ligados ao caso reforça o impacto político: o advogado Francisco Oneto, que defende tanto Espert quanto o próprio presidente Javier Milei em diversas causas, também é o responsável pela defesa de Machado. Para Bruschtein, o “fanatismo anti-Estado” do grupo parece atrair marginais e criminosos, em um cenário em que até figuras como Matías Ozorio — acusado de triplo feminicídio e descrito como “libertário fanático” — circulam no mesmo universo político.

Em meio à crise econômica que assola a Argentina, a manutenção de Espert na chapa oficialista causa perplexidade e levanta suspeitas sobre as reais motivações do governo Milei. Para Bruschtein, o custo eleitoral da decisão é alto: “Com toda a informação que circula, Espert é indefensável em público, é o pior candidato, afasta votos e ainda mancha a imagem do governo”.

A questão central, segundo o jornalista, é por que Milei insiste em manter Espert, mesmo com a candidatura cercada por denúncias de financiamento do narcotráfico e com impactos diretos na credibilidade de sua gestão. O escândalo, além de fragilizar o discurso oficial sobre “segurança”, expõe o risco de que a política argentina se veja cada vez mais enredada nas redes de poder do crime organizado.