Artigo no Guardian questiona líderes da extrema-direita sobre fracasso econômico de Milei
Presidente argentino enfrenta colapso econômico, denúncias de corrupção e silêncio de aliados internacionais
247 - O jornalista Aditya Chakrabortty, colunista do The Guardian, publicou uma análise sobre a rápida deterioração do governo de Javier Milei na Argentina e, sobretudo, sobre o silêncio de figuras globais da extrema-direita que antes o exaltavam como exemplo. Para Chakrabortty, o caso argentino se tornou um “teste de laboratório” sobre como projetos ultraliberais podem ascender com velocidade e, em pouco tempo, entrar em colapso.
No artigo, o colunista destaca que Milei, inicialmente celebrado como símbolo da nova direita internacional por nomes como Nigel Farage, Elon Musk e pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, hoje enfrenta uma combinação explosiva de crise cambial, fuga de capitais e escândalos de corrupção. A desvalorização abrupta do peso obrigou Washington a intervir com um pacote emergencial de US$ 20 bilhões, somado a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional, para evitar uma quebradeira ainda maior.
De ícone midiático à queda acelerada
Chakrabortty lembra que Milei chegou ao poder explorando o cansaço da população com a “casta política” argentina. Autodefinido como “El Loco”, vestindo jaqueta de couro preta e empunhando motosserra, ele transformou ideias radicais em conteúdo viral. Disse que a mudança climática era “uma mentira socialista”, defendeu que pobres pudessem vender órgãos e chamou o Estado de “pedófilo no jardim de infância”.
Esse estilo performático lhe garantiu um eleitorado amplo entre jovens e classes populares, um feito raro para políticos não vinculados ao peronismo. Inicialmente, colheu algum sucesso: a inflação cedeu e os mercados reagiram com entusiasmo. Mas a ilusão durou pouco. O “superpeso” de Milei não resistiu, e denúncias atingiram sua própria irmã, a quem chama de “a chefe”, acusada de cobrar propinas em contratos públicos de medicamentos.
A derrota nas urnas e a rejeição popular
As eleições provinciais em Buenos Aires marcaram a virada. Hostilizado por manifestantes e derrotado nas urnas pelos peronistas, Milei viu ruir a narrativa de salvador econômico. “As pessoas acreditaram que ele melhoraria suas vidas. Agora estão o abandonando”, analisou Maria Victoria Murillo, professora de ciência política da Universidade Columbia, em entrevista ao Guardian.
Para conter a fuga de capitais, o Banco Central argentino, que Milei havia prometido extinguir, despejou bilhões de dólares em reservas. O apoio financeiro de Trump garantiu fôlego temporário, mas também expôs a dependência de Buenos Aires das mesmas elites e instituições que o presidente dizia combater.