Cercado por escândalo de propinas, governo argentino convoca reunião de urgência na Casa Rosada
Crise se aprofunda após vazamento de áudios sobre corrupção na compra de medicamentos e provoca reação imediata do governo de Javier Milei
247 – Em meio a uma grave crise política, o governo de Javier Milei convocou uma reunião de emergência na Casa Rosada após a divulgação de novos elementos ligados ao escândalo de supostas propinas na compra de medicamentos. A informação foi publicada pelo portal argentino C5N. A tensão cresceu após a circulação de áudios atribuídos ao ex-diretor da Agência Nacional de Discapacidade (ANDIS), Diego Spagnuolo, nos quais ele mencionava o pagamento de coimas a funcionários ligados à administração.
A possibilidade de que surjam novos vídeos comprometendo integrantes-chave da gestão libertária elevou a preocupação no Palácio presidencial. Para conter o impacto político e tentar formular uma resposta coordenada, participaram da reunião o porta-voz Manuel Adorni, o assessor Santiago Caputo, o vice-ministro da Justiça, Sebastián Amerio, e o assessor legal Santiago Viola, entre outros nomes de confiança de Milei.
Segundo a jornalista Tatiana Scorciapino, em entrevista ao programa La Última Pregunta, o governo ainda não encontrou uma estratégia clara diante das revelações. “Van probando porque en el Gobierno no saben qué viene después. En las primeras horas intentaron comunicarse con Spagnuolo, pero no respondía los teléfonos, no se sabía qué iba a hacer. Finalmente esta semana se terminó presentando. Pero el Gobierno todavía no tiene claro para dónde disparar”, afirmou.
Contradições e ausência de denúncia formal
Desde o início da crise, a administração de Milei buscou desqualificar os áudios, primeiro classificando-os como falsos. Posteriormente, o próprio presidente declarou que tudo “era mentira” e que Spagnuolo seria levado à Justiça. No entanto, passados sete dias do estouro do escândalo, a denúncia judicial prometida ainda não havia sido apresentada, aumentando as dúvidas sobre a real capacidade do governo de enfrentar o caso.
A investigação, conduzida pelo juiz federal Sebastián Casanello a pedido do fiscal Franco Picardi, já resultou em novos mandados de busca. Foram realizados na sede da ANDIS, localizada na avenida Hipólito Yrigoyen, em Buenos Aires, e na Droguería Suizo Argentina, no bairro de Núñez.
Na agência, a Polícia da Cidade confiscou servidores e documentos após seis horas de operação. Já na empresa farmacêutica, foram recolhidos livros contábeis e registros internos dos sistemas. Essa foi a segunda rodada de diligências em uma semana, após buscas anteriores que incluíram as residências de Spagnuolo, dos empresários Emmanuel e Jonathan Kovalivker e do ex-diretor da ANDIS, Daniel Garbellini.
Um dos momentos mais tensos ocorreu durante a tentativa de Emmanuel Kovalivker de fugir de sua casa em Nordelta. Ele foi surpreendido com US$ 266 mil e 7 milhões de pesos em envelopes, além de ter o passaporte e o celular apreendidos. Entretanto, a investigação esbarrou em dificuldades técnicas: a empresa israelense Cellebrite informou não ter tecnologia para desbloquear o celular Samsung de última geração de Kovalivker.
Sigilo bancário e avanços na apuração
Entre as medidas recentes, a Justiça também determinou o levantamento do sigilo fiscal, bancário e bursátil de Diego Spagnuolo, que já constituiu como advogado o criminalista Ignacio Rada Schultze. O processo segue em segredo de Justiça, o que aumenta o clima de incerteza em torno de futuros desdobramentos.
A sucessão de revelações e operações policiais transformou o escândalo das coimas em um dos maiores desafios da gestão Milei, que enfrenta pressão tanto da oposição quanto da opinião pública para esclarecer o caso e punir os responsáveis.


