Avança o escândalo das propinas que pode derrubar Milei
Drogaria Suizo Argentina e ex-chefe da Agência Nacional de Deficiência estão no centro de denúncias de corrupção que já abalam o governo argentino
247 – Um grande escândalo de propinas está abalando o governo do presidente argentino Javier Milei. O caso envolve a drogaria Suizo Argentina S.A., uma das maiores do setor farmacêutico no país, e o ex-chefe da Agência Nacional de Deficiência (Andis), Diego Spagnuolo.
Segundo revelou o portal C5N, a empresa se negou a entregar à Justiça a senha de acesso aos seus e-mails corporativos, o que obrigou os investigadores a extrair dados diretamente do servidor central. A resistência da companhia chamou atenção porque, em outros processos de corrupção, empresas acusadas sempre haviam facilitado o acesso às suas comunicações internas.
O episódio, que durou mais de oito horas, terminou com a condução do responsável de informática da empresa a uma delegacia, para registrar sua postura de não colaboração.
Quem é Diego Spagnuolo e por que ele é importante
Diego Spagnuolo foi presidente da Andis, órgão responsável por políticas de acessibilidade e pagamentos a prestadores de serviços de saúde. Em gravações que vieram a público, ele teria admitido a existência de pagamentos ilegais (propinas) ligados à liberação de recursos e à compra de medicamentos de alto custo.
O advogado Gregorio Dalbon apresentou a denúncia inicial, reforçada por documentos apreendidos na investigação. Além disso, uma ex-funcionária da Andis, Maive Carone Fernández, contou em entrevista à Rádio 10 que prestadores de serviços de várias regiões da Argentina eram pressionados a pagar propinas para receber valores atrasados do governo.
Ela afirmou ainda que essas práticas eram de conhecimento interno do órgão e chegaram a ser registradas na Oficina Anticorrupción, mas não foram denunciadas oficialmente pelos funcionários por medo de perder o emprego.
As suspeitas contra a Suizo Argentina
A Suizo Argentina está no centro da polêmica. A empresa havia divulgado comunicado — que chegou a ser compartilhado pelo próprio Milei — dizendo que estava “à plena disposição da Justiça”. Mas, na prática, ocorreu o contrário: a companhia impediu o acesso direto aos e-mails corporativos.
Durante as operações, um dos donos da empresa foi surpreendido tentando sair de sua casa em Nordelta com US$ 266 mil em envelopes. Já Spagnuolo tentou fugir quando a polícia chegou à sua residência em Pilar. No local, foi encontrada uma máquina de contar dinheiro, mas não havia cédulas. Seu celular, entregue à Justiça, estava praticamente vazio, o que levantou a suspeita de que teria apagado provas.
Crise política na Casa Rosada
Na Casa Rosada, sede do governo argentino, o caso provocou enorme preocupação. O motivo principal é a proximidade de Spagnuolo com o presidente Milei: além de ter sido chefe da Andis, ele ainda aparece em procurações assinadas pelo presidente para representar seus interesses em causas judiciais.
Para o governo, a revelação de que um aliado tão próximo foi gravado admitindo práticas de corrupção é explosiva. Como resumiu um advogado ouvido pelo C5N, Spagnuolo seria “um partícipe necessário” no esquema de propinas.
O impacto para o governo Milei
O caso representa o primeiro grande teste político e judicial de Javier Milei desde que assumiu a presidência. A resistência da empresa em colaborar, as gravações de Spagnuolo e a apreensão de dinheiro em espécie já configuram um cenário grave.
Agora, a dúvida é se o ex-chefe da Andis decidirá se tornar um delator premiado, o que poderia trazer ainda mais revelações sobre o alcance do esquema. A depender dos próximos passos, esse escândalo pode ter consequências profundas para a estabilidade do governo argentino.