Roberto Rodrigues: Quem irá resolver o problema da fome do mundo será o agronegócio tropical
Embaixador da FAO defende papel estratégico do agronegócio do cinturão tropical — com destaque para Brasil e Índia
247 – Durante participação no LIDE Brazil India Forum, o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e atual embaixador da FAO para o Cooperativismo, traçou um panorama otimista e estratégico sobre o papel do Brasil na resolução dos principais dilemas globais da atualidade. Segundo ele, mesmo diante da chamada “era da desordem”, marcada por crises geopolíticas e falência dos mecanismos multilaterais, há uma via concreta para o futuro: o fortalecimento do agronegócio sustentável nos países tropicais.
“Segurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social são os quatro fantasmas que precisam ser enfrentados para que haja paz no mundo, e quem tem capacidade de enfrentar isso é o agronegócio do mundo tropical”, afirmou Rodrigues. Ele destacou que esse cinturão tropical compreende América Latina, África Subsaariana e parte significativa da Ásia, e que Brasil e Índia são os únicos países com porte e competência para liderar esse processo global.
Brasil: tecnologia tropical e crescimento sustentável
Roberto Rodrigues apontou cinco pilares que sustentam o avanço do agronegócio brasileiro: tecnologia tropical sustentável, empreendedorismo do produtor, disponibilidade de terras, políticas públicas consistentes e um fator externo — o crescimento da demanda internacional.
No campo da tecnologia, os dados apresentados impressionam. “A produção de grãos no Brasil cresceu 487% nos últimos 35 anos, enquanto a área plantada aumentou apenas 116%”, explicou. Esse salto produtivo foi possível graças à inovação científica no campo, o que também permitiu a preservação de milhões de hectares que, sem ganhos de produtividade, teriam sido desmatados para ampliar a produção.
O mesmo raciocínio se aplica à produção de proteínas. “A produção de frangos cresceu 541%, a de suínos 333% e a de bovinos 135% no mesmo período”, afirmou. Esses números, segundo ele, mostram que o avanço brasileiro na segurança alimentar não se limita aos grãos, mas se estende a todas as cadeias agropecuárias, incluindo hortaliças, café, cana-de-açúcar e outras culturas.
Agronegócio e energia: uma conexão estratégica
Rodrigues também destacou a relevância do setor na transição energética. “Enquanto a matriz energética mundial tem apenas 15% de fontes renováveis, no Brasil esse índice é de 50%, e 60% desse total vem da agricultura”, afirmou. A agricultura contribui diretamente por meio de fontes como etanol de milho e cana-de-açúcar, biodiesel de soja e biomassa vegetal, o que torna o agronegócio um ator essencial também na agenda climática.
Esse desempenho reflete diretamente no comércio exterior. “Em 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 21 bilhões; no ano passado, foram US$ 164 bilhões”, disse Rodrigues. A soja, que em 2000 representava 20% das exportações do setor, passou a representar 32% — um crescimento exponencial em valor absoluto. Além disso, a Ásia, especialmente a China, se tornou o principal destino das exportações, substituindo os Estados Unidos e a União Europeia.
Brasil e Índia: parceria estratégica para o mundo tropical
Apesar dos avanços, o ex-ministro reconheceu que ainda há desafios: “Precisamos avançar em infraestrutura logística, acordos comerciais e no combate às ilegalidades, como o desmatamento, a mineração e os incêndios criminosos”. Segundo ele, esses crimes não são cometidos por agricultores, mas por “bandidos aventureiros” que devem ser combatidos com rigor.
Rodrigues destacou ainda que o Brasil pretende apresentar essas conquistas e desafios durante a próxima COP, que será realizada em novembro, em Belém do Pará. Lá, o país pretende mostrar como o avanço da produção se deu com base em tecnologia e sustentabilidade, e também destacar o papel da agroindústria, setor que hoje responde pela maior parte da indústria nacional.
Por fim, Roberto Rodrigues reiterou o convite à Índia para se unir ao Brasil numa missão comum: “É perfeitamente possível que, unidos, Brasil e Índia, liderem o cinturão tropical e ajudem o mundo a vencer os quatro cavaleiros do apocalipse — a insegurança alimentar, energética, climática e social — garantindo paz ao planeta”.
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