Nathalia Urban por Milenna Saraiva

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PIB da Venezuela cresce 8,7% no terceiro trimestre, impulsionado pelo petróleo

Banco Central venezuelano aponta 18 trimestres consecutivos de expansão, mas população diz não sentir melhora e culpa sanções dos Estados Unidos

PIB da Venezuela cresce 8,7% no terceiro trimestre, impulsionado pelo petróleo (Foto: Reuters)

247 – O Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela aumentou 8,7% no terceiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (17) pelo Banco Central da Venezuela (BCV). O resultado foi impulsionado principalmente pelo setor petrolífero, que registrou alta de 16,12%, enquanto a atividade não petrolífera cresceu 6,12%, informou o Globo.

Apesar do desempenho positivo, o país enfrenta uma nova onda inflacionária e uma forte desvalorização do bolívar, que já perdeu mais de 70% de seu valor frente ao dólar neste ano. No mercado oficial, a cotação é de 203 bolívares por dólar, mas no mercado paralelo o valor ultrapassa 280 bolívares — uma diferença de quase 40%.

O salário mínimo é de apenas 130 bolívares, o equivalente a menos de um dólar, e o governo tenta compensar essa defasagem com bonificações que elevam o chamado “rendimento mínimo mensal”.

 “Bendito aquele cuja economia cresceu, porque a minha me faz chorar todas as noites e todos os dias”, disse Carolina Serrada, confeiteira de 28 anos, que relatou ao Globo a dificuldade de acompanhar o aumento diário dos preços de insumos básicos.
 “Dizer que há aumento do PIB é algo positivo, mas eu não vejo prosperidade nem o fim da crise”, afirmou Ingrid Flores, de 35 anos, criadora de conteúdo para redes sociais.

Recuperação estatística, crise real

O BCV destacou que a economia venezuelana acumula 18 trimestres consecutivos de crescimento, retomando a trajetória positiva desde o segundo trimestre de 2021, quando o país começou a sair de uma hiperinflação que durou quatro anos e havia provocado uma queda de cerca de 80% do PIB.

 “O dinamismo das atividades econômicas que vem sendo registrado (...) é um indicador da capacidade de recuperação da economia nacional diante das adversidades”, afirmou o Banco Central em comunicado.

Apesar da recuperação técnica, o cenário cotidiano segue marcado pela alta de preços, pela escassez de produtos e pela perda de poder de compra. Segundo o presidente Nicolás Maduro, a inflação em 2024 chegou a 48%, embora o BCV não divulgue dados oficiais sobre o índice há um ano.

Sanções e instabilidade externa

O governo venezuelano atribui a instabilidade econômica às sanções impostas pelos Estados Unidos em 2017 e ao embargo petrolífero de 2019, que afetaram as exportações e restringiram o acesso do país a crédito e investimentos internacionais. Naquele ano, a inflação chegou a 344.000%, o que destruiu a capacidade de consumo da população e acelerou a desvalorização do bolívar.

A divulgação dos dados econômicos ocorre em meio a um ambiente de tensão crescente entre Caracas e Washington, após o presidente norte-americano Donald Trump confirmar a existência de uma missão secreta da CIA no país e ameaçar ataques dentro do território venezuelano.

Enquanto o Banco Central busca mostrar sinais de recuperação, a percepção dos cidadãos indica que o crescimento não se reflete na vida real — e que, para muitos venezuelanos, o país continua enfrentando os efeitos diretos de um bloqueio econômico e financeiro prolongado.

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