O mundo de ponta-cabeça: analistas internacionais veem necrose do Nobel após prêmio a Maria Corina
Concessão do Nobel da Paz à líder venezuelana de extrema direita provoca repúdio global e é classificada como símbolo da decadência do comitê norueguês
247 – De acordo com reportagem da TeleSur, a decisão do Comitê Norueguês de conceder o Prêmio Nobel da Paz de 2025 à venezuelana María Corina Machado, figura da extrema direita e crítica feroz do governo bolivariano, foi recebida com forte rejeição em diversos países. Líderes políticos, intelectuais e movimentos sociais classificaram a escolha como um escândalo moral e um sintoma do desmonte ético da diplomacia ocidental.
Machado é conhecida por seu apoio ao governo de Benjamín Netanyahu durante o genocídio na Faixa de Gaza e por ter defendido reiteradamente uma intervenção militar na Venezuela. Sua premiação ocorre em meio a um cenário de guerras em múltiplas regiões do planeta, tensões militares no Caribe e o controverso “plano de paz” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Palestina — descrito por analistas como um projeto de deslocamento e extermínio disfarçado de acordo político.
“Necrose de um Nobel”: o mundo ao avesso
O jornalista espanhol Ignacio Ramonet definiu o episódio como uma “necrose de um Nobel”, refletindo a degradação do sentido original do prêmio.
“Outorgar o prêmio da paz a quem não cessou de reclamar invasões militares, golpes de Estado, guarimbas e guerras é uma aberração mais do atual desorden internacional. É o mundo ao avesso. É fazer realidade a distopia de Orwell em 1984, na qual a verdade é a mentira e a paz é a guerra. Triste Nobel putrefato”, afirmou Ramonet.
A frase “o mundo ao avesso” se tornou o símbolo da indignação de quem vê no prêmio uma rendição à lógica imperialista e à manipulação política global.
Críticas de Cuba, Honduras e Argentina
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, declarou que “a politização, parcialização e desprestígio do Comitê Norueguês do Nobel da Paz alcançaram limites insuspeitados”. Ele classificou como “vergonhoso” o prêmio concedido a “uma pessoa que instiga a intervenção militar em sua pátria”, considerando o gesto uma “manobra política para enfraquecer o movimento bolivariano”.
Na mesma linha, o ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya Rosales, reagiu com dureza:
“O Nobel da Paz concedido a María Corina Machado é uma afronta à história e aos povos que lutam por sua soberania. Premiar uma golpista, aliada das elites financeiras e dos interesses estrangeiros, é converter o símbolo da paz em um instrumento do colonialismo moderno.”
Zelaya acrescentou que “nunca há paz quando se premia quem promove sanções, bloqueios e guerras econômicas contra o próprio povo”.
O argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Nobel da Paz em 1980, também manifestou indignação:
“Corina Machado faz parte da política dos Estados Unidos contra o governo venezuelano. Ela não recebeu o prêmio por ter trabalhado pela paz e pelo povo da Venezuela. Preocupa-me que o Comitê do Nobel tenha tomado essa decisão.”
“Nada de pacífico em suas ideias”, denuncia Codepink
A coordenadora de campanhas da organização norte-americana Codepink, Michelle Ellner, ironizou a decisão e denunciou sua gravidade:
“Quando vi a manchete ‘María Corina Machado ganha o Prêmio da Paz’, quase ri do absurdo. Mas não o fiz, porque não há nada de engraçado em premiar alguém cujas políticas causaram tanto sofrimento. Qualquer um que conheça suas ideias sabe que não há nada remotamente pacífico em suas políticas.”
Ellner afirmou que a política venezuelana integra “uma aliança global entre o fascismo, o sionismo e o neoliberalismo”, que “justifica a dominação com o discurso da democracia e da paz”.
Segundo ela, “na Venezuela, essa aliança significou golpes de Estado, sanções e privatizações; em Gaza, significa genocídio e a eliminação de um povo”.
“A ideologia é a mesma: a crença de que algumas vidas são descartáveis, que a soberania é negociável e que a violência pode ser vendida como ordem”, concluiu.
Repercussão até em Washington
A controvérsia foi tão ampla que até Richard Grenell, enviado especial do governo dos Estados Unidos para a Venezuela, criticou a decisão.
“O Prêmio Nobel morreu há anos”, escreveu em suas redes sociais, ecoando a percepção de que a distinção perdeu seu prestígio e se transformou em um instrumento político.
Um símbolo de decadência global
Para observadores latino-americanos, a premiação de María Corina Machado simboliza a instrumentalização da paz como arma ideológica. Ao reconhecer uma figura que apoiou bloqueios, golpes e sanções contra seu próprio país, o comitê norueguês teria, segundo críticos, se alinhado à narrativa imperial que busca enfraquecer os governos soberanos da região.
A decisão também reaviva o debate sobre a crise moral das instituições ocidentais, que transformam valores universais — como a paz, a democracia e os direitos humanos — em retórica seletiva para justificar guerras e ingerências externas.




