"Não brinquem com o dragão. A China define a nova ordem internacional", diz Pepe Escobar
Analisata geopolítico analisa a importância da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e diz que o século euroasiático nasceu
247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar publicou no seu Pepe Café uma análise direta de Vladivostok sobre os resultados do Fórum Econômico do Extremo Oriente e da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), realizada em Tianjin. Segundo ele, os encontros consolidaram a ascensão da Eurásia como centro do sistema internacional e marcaram o nascimento do chamado “século euroasiático” (assista aqui).
Escobar destacou que “não brinquem com o dragão. Esse é o arcabouço do novo mundo. Vamos fazer mais business entre nós todos”, resumindo a centralidade da China na redefinição da ordem internacional. Para o analista, a semana foi “absolutamente extraordinária”, com eventos que aceleraram a integração regional e fortaleceram o papel da Rússia, da China e do Sul Global.
A centralidade da China e a parceria com a Rússia
A cúpula da OCX em Tianjin teve como mestre de cerimônias o presidente Xi Jinping e contou com a presença de Vladimir Putin. Escobar enfatizou o peso desse encontro, realizado no Zhongnanhai, a residência oficial da liderança chinesa: “são ocasiões lá em cima, é no topo do topo do topo da pirâmide”.
Na mesma semana, Pequim sediou uma parada militar que exibiu o avanço tecnológico e militar chinês. Escobar não deixou dúvidas sobre a mensagem enviada: “não brinquem com o dragão. E eles mostraram porquê”.
Já em Vladivostok, Putin foi o protagonista do fórum, onde apresentou a ideia de uma “Grande Parceria Euroasiática”, projeto que busca unificar corredores de desenvolvimento, cadeias de suprimento, energia, logística e infraestrutura em toda a região.
O desenvolvimento da Sibéria e do Ártico
A Rússia também apresentou seus planos para desenvolver a Sibéria e o Ártico, áreas estratégicas tanto em recursos naturais quanto em logística. Escobar comparou esse movimento ao processo chinês dos anos 1990 para integrar o oeste do país à Ásia Central.
Segundo ele, trata-se de “um processo em termos de importância histórica, de amplitude histórica, absolutamente extraordinário”, combinando inovação digital, investimentos verdes e construção de infraestrutura em regiões até então negligenciadas.
Reconstrução do Dombás e investimentos chineses
Durante o fórum, Escobar relatou acordos de investimento firmados entre empresas chinesas e lideranças de Donetsk. “Os chineses estão vindo para o Dombass porque eles querem investir na economia... estradas, ferrovias, logística, energia, minerais”, disse o analista.
Um dos exemplos citados foi a reconstrução do porto de Mariupol, que deverá retomar exportações já a partir do próximo ano, transformando a região em um novo polo econômico estratégico.
O século euroasiático
Para Escobar, o conjunto de encontros em Tianjin, Pequim e Vladivostok comprova que a Eurásia retoma seu papel histórico de centro da geopolítica global, revertendo séculos de hegemonia ocidental. Ele ressaltou que “a Eurásia como centro do mundo, como foi na história por 98% ou mais, está voltando”.
A proposta de governança global apresentada por Xi Jinping na OCX — baseada na igualdade entre Estados e no respeito aos princípios fundadores da ONU — foi apresentada como contraponto direto à chamada “ordem internacional baseada em regras”, promovida pelos Estados Unidos e seus aliados.
Em suas palavras finais, Pepe Escobar reforçou: “Esse é o século euroasiático nascendo. Ele já nasceu, estava engatinhando, e agora está andando a passos de corredor de fundo”. Para o analista, o Fórum Econômico de Vladivostok e a cúpula da OCX simbolizam a consolidação de um novo mundo, em que a China e a Rússia lideram a construção de uma ordem internacional multipolar. Assista: