Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Lula: "BRICS é o novo nome da defesa do multilateralismo"

Em reunião virtual com líderes do bloco, presidente brasileiro defendeu governança global mais justa, criticou unilateralismo e reforçou agenda climática

O presidente Lula durante o encontro virtual com líderes do BRICS: em defesa do multilateralismo. (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (8) que o BRICS se tornou o novo nome da defesa do multilateralismo. A declaração foi feita durante a Reunião Virtual de Líderes do grupo, que reuniu representantes de China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia e África do Sul, além do príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, do chanceler da Índia e do vice-ministro das Relações Exteriores da Etiópia.

Ao longo de uma hora e meia de discussões, os países compartilharam preocupações com o aumento de medidas unilaterais no comércio internacional e defenderam a necessidade de ampliar mecanismos de solidariedade e coordenação econômica entre nações do Sul Global.

“Cabe ao BRICS mostrar que a cooperação supera qualquer rivalidade. Regras e normas mutuamente acordadas são essenciais para o desenvolvimento. O comércio e a integração financeira entre nossos países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo. O BRICS já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, afirmou Lula.

Críticas ao unilateralismo

Em seu discurso, o presidente brasileiro alertou para o enfraquecimento da governança global desde a ordem internacional criada em 1945. Citou a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a normalização de práticas unilaterais como exemplos da crise.

“Os pilares da ordem internacional criada em 1945 estão sendo solapados de forma acelerada e irresponsável”, disse Lula.

O presidente destacou decisões tomadas na última Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, incluindo compromissos em áreas como mudança do clima, saúde global, governança da inteligência artificial e integração econômico-comercial. Segundo ele, o grupo representa atualmente 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase metade da população mundial, além de possuir grande potencial em industrialização verde e agropecuária.

Lula também ressaltou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS) na diversificação econômica e no financiamento de uma transição energética justa.

Vozes do Sul Global

O presidente da China, Xi Jinping, afirmou que o BRICS deve estar na vanguarda do Sul Global na defesa do multilateralismo e da cooperação inclusiva. “Neste momento crítico, os países do BRICS [...] devem agir com base no Espírito do BRICS de abertura, inclusão e cooperação vantajosa para todos, defender conjuntamente o multilateralismo e o sistema multilateral de comércio, promover uma maior cooperação e construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade”, disse.

Já o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, destacou a importância de combater a fome e a pobreza global: “Como BRICS, precisamos refletir sobre nosso papel na formação do crescimento global, no combate à pobreza global e na defesa do multilateralismo. Devemos usar nossa voz crescente para promover uma ordem global que melhore a vida de todas as pessoas do mundo e proteja o planeta para as gerações futuras”, reiterou. 

O chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, por sua vez, defendeu cadeias de suprimentos mais resilientes e justas para garantir estabilidade ao comércio: “é imperativo que as práticas econômicas sejam justas, transparentes e beneficiem a todos. Quando há múltiplas interrupções, nosso objetivo deve ser protegê-lo contra tais choques. Isso significa criar cadeias de suprimentos mais resilientes, confiáveis”.

Lula também voltou a defender soluções pacíficas para conflitos, mencionando os fracassos no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria como alertas. Sobre a guerra na Ucrânia, reiterou a necessidade de buscar uma solução que leve em conta as preocupações de segurança de todas as partes envolvidas.

Agenda futura

A reunião virtual serviu como preparação para encontros multilaterais do segundo semestre, como a 80ª Assembleia Geral da ONU, a COP30 em Belém e a Cúpula do G20 na África do Sul.

O presidente brasileiro anunciou ainda o lançamento, durante a COP30, do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), iniciativa voltada a remunerar os serviços ambientais prestados por países que abrigam grandes áreas de floresta.

“A COP30, em Belém, será o momento da verdade e da ciência. Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer supervisão efetiva”, afirmou Lula.

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