Ferrovia Mombasa–Nairobi impulsiona integração e desenvolvimento no Leste Africano
Projeto do Quênia moderniza o transporte, fortalece a economia regional e integra a Iniciativa Cinturão e Rota da China
247 – A ferrovia que liga Mombasa a Nairóbi já é considerada um dos projetos de infraestrutura mais transformadores do Leste Africano. Inaugurada para substituir uma linha centenária, a Standard Gauge Railway (SGR) modernizou o transporte no Quênia, fortaleceu a integração econômica regional e se tornou símbolo da Iniciativa Cinturão e Rota da China. A reportagem foi publicada originalmente pela National Network Africa e assinada pelo jornalista Sello Lentsoane.
O engenheiro queniano Jamlick Mwangi Kariuki, atualmente mestrando em Engenharia de Rodovias e Ferrovias na Universidade Jiaotong de Pequim, trabalhou na Kenya Railways entre 2021 e 2023, período em que participou diretamente do desenho, construção e supervisão de projetos ferroviários. Para ele, a SGR representa um marco nacional.
“O principal objetivo da SGR foi modernizar o transporte entre Mombasa e Nairóbi. A antiga ferrovia de bitola métrica tinha mais de um século e já não conseguia atender ao crescente volume de cargas vindas do porto de Mombasa, que serve não apenas o Quênia, mas toda a região da África Oriental”, explicou Kariuki.
Superando desafios de financiamento e capacitação
O projeto enfrentou obstáculos relevantes, em especial o financiamento, solucionado por meio de aporte conjunto dos governos do Quênia e da China. Outro desafio foi a falta de mão de obra especializada em engenharia ferroviária. A saída veio pela cooperação internacional.
“O Programa de Quenianização reuniu a China Road and Bridge Corporation, a Kenya Railways e a Universidade Jiaotong de Pequim. Ele garantiu que os quenianos fossem treinados localmente e também na China, construindo capacidade para a gestão da ferrovia após a construção. O Instituto de Treinamento Ferroviário em Nairóbi também foi modernizado para apoiar o desenvolvimento de habilidades no longo prazo”, destacou.
Infraestrutura moderna e valor de longo prazo
Apesar do alto custo inicial, Kariuki defende a relevância estratégica da ferrovia.
“A ferrovia utiliza a tecnologia mais avançada. É moderna, segura e eficiente. Pode ter sido cara para construir, mas seu valor está no serviço de longo prazo que prestará tanto para o transporte de cargas quanto para passageiros”, afirmou.
A SGR faz parte da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), estratégia global da China para interligar países por meio de infraestrutura de transporte e comércio. Para Kariuki, os efeitos já são visíveis:
“A BRI melhorou o transporte nos países participantes, criou empregos e abriu oportunidades para que jovens estudem e trabalhem. A SGR é um dos exemplos mais visíveis de seus benefícios na África Oriental.”
Impactos sociais e econômicos
Segundo o engenheiro, o impacto da ferrovia vai muito além do transporte.
“Boa infraestrutura é a base para o crescimento. Com uma rede ferroviária eficiente, o movimento de mercadorias e pessoas no Leste Africano se torna mais fácil, os negócios se expandem e surgem novas oportunidades de emprego e renda. Com o tempo, os padrões de vida melhoram”, enfatizou.
À medida que os trens cortam a savana queniana entre Mombasa e Nairóbi, a SGR se firma como um símbolo de progresso e de futuro. Mais do que ligar duas cidades, conecta economias, promove integração regional e redefine o destino de um continente em transformação.