"Cooperação entre países do Sul Global deve passar do comércio para o campo das ideias", diz Attuch em encontro internacional
Editor do Brasil 247 foi palestrante do Fórum de Cooperação de Mídia no Cinturão e Rota de 2025, promovido pelo Diário do Povo. Eis o discurso integral
247 - O jornalista Leonardo Attuch, editor do Brasil 247 e fundador da Editora 247, foi um dos palestrantes do Fórum de Cooperação de Mídia no Cinturão e Rota de 2025, realizado na cidade de Kunming, província de Yunnan, China, sob a organização do Diário do Povo. Em seu discurso, Attuch destacou que a cooperação entre os países do Sul Global precisa avançar para além da esfera comercial e alcançar também o campo das ideias, como forma de construir uma globalização mais inclusiva e sustentável.
O encontro reuniu representantes de veículos de comunicação de diversas partes do mundo, reforçando a importância da mídia como instrumento de integração e soberania diante das transformações globais. “O eixo do desenvolvimento está se deslocando para o Sul Global. Reunimos a maioria da população mundial e a maior riqueza natural do planeta. Entretanto, além do intercâmbio econômico, precisamos também ampliar nossa cooperação no campo das ideias”, afirmou Attuch.
Durante sua fala, o jornalista lembrou a trajetória da presidenta Dilma Rousseff, hoje à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), sublinhando seu papel na luta pela democracia no Brasil e no fortalecimento das instituições. Ele citou ainda a importância da visita do ex-presidente João Goulart à China, em 1961, como exemplo visionário da aproximação entre os dois países.
Attuch também destacou a necessidade de fortalecer as parcerias midiáticas não apenas na produção de conteúdo, mas também no intercâmbio de melhores práticas no uso das redes sociais e da inteligência artificial. Segundo ele, este é um passo essencial para enfrentar crises provocadas pela manipulação e pela desinformação, cada vez mais frequentes em países ocidentais.
“Sejamos nós, comunicadores do Sul Global, os pioneiros da paz mundial, aspiração máxima da Humanidade”, concluiu.
Discurso de Leonardo Attuch, Presidente da Editora 247 – Diário do Povo
Distintas autoridades, prezados colegas e queridos amigos,
É uma honra imensa estar em Kunming para participar do Fórum de Cooperação de Mídia do Cinturão e Rota de 2025. Agradeço à equipe do Diário do Povo pelo convite e pela calorosa hospitalidade em Yunnan.
Ao contrário de muitos colegas aqui presentes, não estou chegando a Kunming apenas para este evento, mas sim regressando a esta bela cidade. Estive aqui nos dias 6 e 7 de setembro para o Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global e, no intervalo entre estes dois encontros, tive uma agenda intensa em Pequim e Xangai, em minha terceira visita à China neste ano de 2025.
O ponto culminante foi o jantar com a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, na última sexta-feira, 12 de setembro. A foto do encontro, publicada nas redes sociais, viralizou porque ocorreu em um momento muito significativo da história do Brasil, em que um ex-presidente e militares foram, pela primeira vez, condenados por tentativa de golpe de Estado.
Ao longo da história, Dilma Rousseff sempre esteve entre as figuras centrais da luta pela democracia no Brasil. Na juventude, foi presa por combater uma ditadura militar implantada em nosso país pela potência imperial, com apoio praticamente unânime dos grandes meios de comunicação.
Décadas depois, Dilma se tornou a primeira mulher a presidir o Brasil, mas foi vítima de um novo golpe de Estado em 2016, também apoiado pelos grandes meios de comunicação. Essa experiência nos mostrou como o país pagou – e ainda paga – um preço alto por não reconhecer a importância estratégica da comunicação e da disputa ideológica. Diferentemente da China, onde esse tema é tratado com absoluta seriedade e centralidade – o que permite ao país seguir na trilha de paz e desenvolvimento pacífico.
Nesta mesma viagem, entre as duas conferências de Kunming, tive a honra de visitar a sede do Diário do Povo, o Global Times, onde fui recebido por seu presidente, Fan Zhengwei, além de dois dos maiores grupos editoriais da China: o China Publishing Group e o China International Communications Group, que celebrará 76 anos na mesma data da Revolução de 1949.
A visita ao Global Times foi especialmente significativa. Ali, não apenas reafirmamos nossa parceria de longo prazo, como também revisamos os resultados do fórum de mesa-redonda China-América Latina, que realizamos em parceria no Rio de Janeiro durante a cúpula do BRICS deste ano.
Foi um evento que aproximou ainda mais nossas sociedades, gerando um ambiente fértil de cooperação entre jornalistas, acadêmicos e gestores públicos.
Agora, sob a inspiração da Iniciativa de Governança Global lançada pelo presidente Xi Jinping, assumimos um novo compromisso: em 2026 realizaremos um encontro ainda maior e mais abrangente, desta vez na China, para aprofundar o diálogo entre nossos países e povos. Como destacou o presidente Xi, não basta formular princípios – é preciso tomar ações concretas, e este será um passo nessa direção.
É por isso que este encontro em Kunming é tão importante. O eixo do desenvolvimento está se deslocando para o Sul Global. Reunimos a maioria da população mundial e a maior riqueza natural do planeta. Brasil e China já trilham um caminho de cooperação extraordinária, com um comércio bilateral de mais de 200 bilhões de dólares anuais.
Por isso mesmo, quero aqui registrar uma homenagem ao ex-presidente brasileiro João Goulart, que visitou a China em 1961, antes mesmo do restabelecimento das nossas relações diplomáticas, que ocorreu em 1974, e foi um visionário dessa relação estratégica entre os dois gigantes do Sul Global.
Entretanto, além do intercâmbio econômico, precisamos também ampliar nossa cooperação no campo das ideias. Só assim teremos força coletiva para defender uma globalização mais inclusiva, justa e sustentável, que dê voz à maioria global.
Nossa missão, como comunicadores, é sermos pontes entre civilizações, construindo confiança e compreensão mútua. E não poderia haver melhor local, pois Kunming, ao longo da história, foi e tem sido palco de encontros de civilizações.
Concluo dizendo que os países do Sul Global precisam fortalecer a cooperação midiática não apenas na troca de conteúdo editorial, mas também no campo das melhores práticas no uso das redes sociais e da inteligência artificial. Só assim seremos soberanos e resistentes às crises provocadas pela manipulação e pela desinformação, como se vê hoje em vários países ocidentais.
Nós, do Brasil 247, estamos honrados em participar desse esforço coletivo para construir narrativas justas e um mundo harmônico. Sejamos nós, comunicadores do Sul Global, os pioneiros da paz mundial, aspiração máxima da Humanidade.
Muito obrigado. Xie, xie!




