China combate desertificação com "Grande Muralha Verde"
Após quatro décadas de trabalho, país ergue barreira ecológica de mais de 3 mil quilômetros para conter avanço das areias e proteger comunidades
Reportagem de Li Yi, jornalista da CGTN – A desertificação é uma crise global que ameaça os meios de subsistência de 3,2 bilhões de pessoas em todo o planeta. Na região chinesa de Xinjiang, quatro décadas de esforços persistentes transformaram a borda do imenso Deserto de Taklamakan, criando uma barreira verde de 3.046 quilômetros. É um dos muitos exemplos de como a ação humana pode recuperar terras degradadas e proteger o futuro da Terra.
No coração do sul de Xinjiang está o Taklamakan, conhecido como o “mar da morte” por suas condições áridas e hostis. Com 330 mil quilômetros quadrados — quase o tamanho da Finlândia — é o maior deserto da China e o segundo maior deserto móvel do mundo. Suas dunas parecem infinitas e as tempestades de areia ocupam um terço dos dias do ano.
Por gerações, o deserto ameaçou vilarejos, plantações e rotas de transporte em sua periferia. Quase 80% de suas areias estão em movimento constante e, em algumas épocas do ano, enchentes provocadas pelo degelo das montanhas aumentam a instabilidade, colocando em risco casas e plantações. Houve até o temor de que o Taklamakan se unisse ao deserto vizinho de Kumtag, o que agravaria ainda mais a situação das comunidades locais.
A resposta chinesa: conter as areias
Diante do desafio, a China lançou um ambicioso projeto de contenção: plantar espécies resistentes à aridez, como o choupo-do-deserto, o salgueiro-vermelho, o saxául e até roseiras, para criar um cinturão de vegetação em torno do Taklamakan.
Foram mais de 40 anos de trabalho até que, em novembro de 2024, no condado de Yutian, as últimas mudas foram plantadas. O resultado é uma barreira ecológica de 3.046 quilômetros que estabiliza o deserto, reduz as tempestades de areia, protege o ecossistema frágil e ainda garante condições de sobrevivência e reprodução para a fauna local.
Uma estratégia ousada contra a desertificação
O projeto integra o Programa de Florestamento da Grande Muralha Verde do Norte da China (TSFP, na sigla em inglês), o maior programa de reflorestamento do mundo, iniciado em 1978. O objetivo é conter o avanço da desertificação e diminuir a frequência de tempestades de areia que atingem as regiões áridas e semiáridas do norte do país.
Dados oficiais mostram que a cobertura florestal nas áreas incluídas no programa subiu de 5% em 1977 para 13,8% atualmente. Mais de 60% das regiões antes sujeitas à erosão do solo foram controladas e cerca de 30 milhões de hectares de terras agrícolas foram preservados da expansão do deserto.
De terras de desespero a campos de esperança
Os desafios da China se repetem em várias regiões do planeta, como o Sahel, na África, o Oriente Médio e a Ásia Central. Estima-se que 40% das terras do mundo estejam degradadas, afetando diretamente quase metade da população global.
Há, no entanto, sinais de esperança. Projetos como o TSFP e a Grande Muralha Verde da África demonstram que é possível transformar áreas degradadas em ecossistemas restaurados.
Segundo o cientista Lu Qi, da Academia Chinesa de Silvicultura, combater a desertificação não significa eliminar os desertos, mas compreender e preservar a integridade de seus ecossistemas, garantindo um futuro mais sustentável para a humanidade.
O “mar da morte” talvez nunca desapareça por completo — e nem precisa. Mas se rosas podem florescer em suas bordas, talvez desertos como o Taklamakan também possam deixar de ser símbolos de desespero para se tornarem verdadeiros campos de esperança.