Nathalia Urban por Milenna Saraiva

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"China antecipou em 25 anos seu plano para 2049", avalia professor sobre decisão na OMC

Evandro Menezes de Carvalho diz que medida reforça papel da China no comércio global e pressiona hegemonia dos EUA

Evandro Menezes de Carvalho (Foto: Divulgação)

247 - A decisão da China de renunciar ao tratamento especial concedido pela Organização Mundial do Comércio (OMC) aos países em desenvolvimento tem gerado repercussão mundial. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro Li Qiang durante reunião da ONU, em Nova York, e marca uma guinada na posição do país diante do sistema multilateral de comércio.

Segundo destacou o portal Vermelho, o professor e especialista em China Evandro Menezes de Carvalho classificou a medida como ousada e histórica. “Arrisco dizer que a China antecipou, em 25 anos, o que ela estava planejando para 2049”, afirmou, lembrando que o centenário da República Popular será celebrado com a meta de consolidar o país como uma potência socialista moderna, próspera e desenvolvida.

Responsabilidade global e reforma da OMC

Ao anunciar a decisão, Li Qiang declarou que “como um grande país em desenvolvimento responsável, a China não buscará um novo tratamento especial e diferenciado nas negociações atuais e futuras da OMC”. A posição foi elogiada pela diretora-geral da entidade, Ngozi Okonjo-Iweala, que a considerou um marco para o fortalecimento de um comércio global mais equilibrado.

Na avaliação de Evandro de Carvalho, a iniciativa demonstra que a China está preparada para competir em pé de igualdade com os países desenvolvidos, abrindo caminho para a modernização das regras da OMC. “É um passo muito significativo, extremamente ousado e surpreendente”, reforçou.

Rivalidade com os Estados Unidos

Carvalho também destacou o impacto da decisão nas relações de poder internacionais, especialmente no confronto com Washington. Para ele, o movimento chinês acelera o desgaste da liderança norte-americana. “Os Estados Unidos estão cometendo erros atrás de erros, que desgastam a sua legitimidade e abrem fissuras em sua hegemonia. A China tem ocupado esse espaço e acelerado esse processo”, avaliou.

Segundo o especialista, a medida se contrapõe diretamente ao protecionismo dos Estados Unidos, intensificado pelo atual presidente Donald Trump. Essa postura, segundo ele, abre espaço para que Pequim amplie sua influência e fortaleça sua imagem de potência responsável.

Estratégia interna e projeção global

O professor lembrou ainda que o avanço da China se apoia na Política de Circulação Dupla, lançada pelo presidente Xi Jinping, que prioriza o fortalecimento do mercado interno sem abrir mão da integração internacional. “O governo chinês começou a desenvolver mais o mercado e a produção domésticos para reduzir sua dependência internacional, sobretudo em setores sensíveis”, explicou.

Com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, o país projeta dobrar sua classe média, hoje estimada em 400 milhões de pessoas, até 2035. Para Carvalho, essa expansão da renda transformará a China em um mercado consumidor extraordinário, consolidando sua posição como força motriz do comércio mundial.

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