Tarifaço de Trump ameaça 140 mil empregos no RS, diz Fiergs
Federação aponta que 85,7% das exportações do RS não foram isentas e cobra apoio emergencial para conter o risco de demissões
247 - A decisão do governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, de isentar de tarifas quase 700 produtos importados terá efeito limitado para a economia do Rio Grande do Sul. Segundo avaliação da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), a medida contemplou apenas uma pequena parcela das exportações gaúchas, o que mantém elevado o risco para a indústria do estado.
“O Rio Grande do Sul foi o mais prejudicado. Apenas 14,3% das exportações foram beneficiadas pela isenção. São 140 mil postos de trabalho que podem ser impactados”, alertou o presidente da entidade, Claudio Bier, nesta sexta-feira (1), de acordo com a Folha de S. Paulo. “Enquanto essa tarifa de 50% estiver em vigor, nossas indústrias terão que buscar novos mercados ou se adaptar ao mercado interno. Elas vão ter que se reinventar”, disse.
A Fiergs e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) articulam com o governo federal a adoção de medidas para mitigar os efeitos da taxação sobre os exportadores. De acordo com Guilherme Scozziero, coordenador do Conselho de Relações Trabalhistas da Fiergs, a proposta é reativar instrumentos emergenciais já usados na pandemia e após as enchentes de maio, como a suspensão de contratos de trabalho.
“Temos mecanismos como férias coletivas e banco de horas, mas isso é paliativo. Precisamos de algo mais efetivo para segurar os empregos”, defendeu Scozziero. Ele argumentou que, sem medidas robustas, haverá “um desemprego muito grande”. Ainda assim, frisou que demissões são a última opção. “As indústrias tentam sempre alternativas para amortecer os impactos”, acrescentou.
Apesar de uma leve alta de 0,6% no desempenho industrial em 2024, reflexo de uma recuperação após longos meses de crise provocada pelas enchentes, o cenário com o tarifaço é desafiador. O governo do estado inicialmente projetou uma perda de R$ 1,9 bilhão no PIB, mas, após a divulgação dos itens isentos, a estimativa foi revisada para R$ 1,5 bilhão.
Segundo a reportagem, o setor metalúrgico é o mais vulnerável: foram US$ 324,9 milhões exportados aos EUA no ano, representando 35,8% das vendas externas do segmento. Entre os itens afetados estão caldeiras, tanques, ferramentas, facas e latas metálicas. A fabricante de armas Taurus, por exemplo, enviou 85,9% de sua produção ao mercado americano — o equivalente a US$ 170,2 milhões.
Em seguida, aparecem as indústrias de máquinas e materiais elétricos (US$ 114,6 milhões, ou 42,5% do total do setor) e o segmento calçadista, que exportou 19,4% de sua produção, o equivalente a US$ 176,2 milhões. Como boa parte desses calçados são fabricados para marcas norte-americanas, a realocação da produção a outros mercados pode ser dificultada. “Não se constrói um mercado exportador de uma hora para outra”, afirmou Bier.
O presidente da Fiergs defendeu que o governo brasileiro adote uma postura de diálogo com a administração norte-americana, evitando atritos que possam gerar novas sanções. Bier ressaltou a imprevisibilidade do atual presidente dos EUA. “Vamos cutucar um leão com vara curta. Os Estados Unidos têm um presidente que, quando fustigado, reage com ainda mais força. É preciso paciência e negociação.”
Bier evitou comentar os argumentos políticos usados por Trump para justificar a adoção das tarifas, que incluíram críticas ao STF brasileiro, em especial às ações do ministro Alexandre de Moraes no julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e dos réus pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. “Tomamos a decisão de não nos envolver politicamente nessa crise, justamente para que a indústria possa ser uma mediadora”, concluiu.
Enquanto isso, o governador Eduardo Leite (PSD), anunciou a liberação de R$ 100 milhões em crédito para empresas exportadoras, com início nesta segunda-feira (4). A Fiergs já solicitou que esse montante seja dobrado.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: