Lula aposta em vitória do IR para ganhar fôlego no Congresso
A aprovação da ampliação da isenção do Imposto de Renda virou trunfo político para o governo, mas próximas votações prometem tensão
247 - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou nesta quarta-feira (1) sua primeira grande vitória na gestão do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) à frente da Câmara dos Deputados. A Casa aprovou, por unanimidade, o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, com 493 votos favoráveis e nenhum contrário. O Palácio do Planalto tenta transformar o resultado em combustível para sua agenda legislativa, mas a base do Centrão resiste a garantir apoio automático em outras votações.
Segundo o jornal O Globo, apesar da dimensão eleitoral da medida — considerada estratégica para Lula na corrida presidencial de 2026 —, lideranças do Centrão evitaram associar o avanço ao governo e preferiram ressaltar o impacto direto na vida da população. “Não é de interesse do governo, é do Brasil”, afirmou o deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA).
Pressão popular e estratégia política
A aprovação só ocorreu após semanas de impasse na Câmara. Mobilizações populares em todas as capitais e a atuação do Senado, que chegou a avançar com uma versão alternativa do texto em comissão, pressionaram os deputados a destravar a pauta. Diante da possibilidade de a medida não avançar, o Planalto chegou a avaliar o envio de uma Medida Provisória para garantir os efeitos da mudança a partir do próximo ano.
Segundo Gleisi Hoffmann (PT), ministra das Relações Institucionais, a combinação de fatores foi decisiva: “Acho que o apoio popular a esse projeto colaborou muito. O diálogo aqui na Casa, com os líderes, as conversas que tivemos e a determinação do presidente Hugo Motta foram fatores muito positivos”.
Disputa por protagonismo e próximos embates
Apesar do triunfo, a relação entre Executivo e Legislativo segue marcada por incertezas. Hugo Motta ressaltou que cada votação terá dinâmica própria. “Cada votação é uma votação”, declarou o presidente da Câmara, indicando que o apoio ao governo não será automático.
Outro ponto de tensão é a Medida Provisória que trata da tributação de instrumentos financeiros como alternativa ao aumento do IOF. A votação, que deve ocorrer na comissão especial às vésperas de perder a validade, é vista como novo teste para a articulação política do Planalto. Até mesmo integrantes da equipe econômica admitem que o clima no Congresso continua hostil.
Arthur Lira (PP-AL), relator do projeto do IR e ex-presidente da Câmara, chegou a cogitar absorver pontos da MP no texto aprovado, o que reduziria o impacto do plano econômico do governo. No entanto, essa articulação não avançou.
Implicações eleitorais
Mais do que uma vitória técnica, a aprovação da ampliação da isenção do IR foi interpretada no Planalto como símbolo da retomada de protagonismo político. A medida reforça uma promessa de campanha de Lula e cria um ativo eleitoral poderoso para 2026, ao ampliar benefícios para uma faixa significativa da população.
Mesmo assim, líderes do Centrão mantêm a estratégia de se desvincular do Planalto, tentando mostrar independência diante do eleitorado. O próximo período legislativo promete embates intensos, principalmente em torno de medidas que afetam a arrecadação e a política fiscal.