Cármen Lúcia descarta aposentadoria precoce e cobra avanço em direitos e diversidade no Judiciário
Ministra do STF diz que “há muitas mudanças, mas ainda estamos longe” e critica o machismo estrutural
247 – A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que não pretende se aposentar tão cedo e que o país ainda tem muito a conquistar em direitos e igualdade. As declarações foram feitas nesta quinta-feira (16), no evento Sempre Um Papo, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. As informações são do Valor Econômico.
“Antes disso, eu não penso em me aposentar tão cedo. Eu acho que há muitas mudanças, mas ainda estamos longe do que queremos em termos dos direitos das pessoas”, disse a ministra.
A fala ocorre em meio à expectativa sobre quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicará para a vaga aberta com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso. O debate reacendeu a falta de diversidade no STF e gerou rumores sobre uma possível saída de Cármen, que hoje é a única mulher na Corte e só se aposenta por idade em 2029.
“Somos uma sociedade machista e sexista”
Sem tratar diretamente da sucessão, Cármen Lúcia defendeu a presença de mulheres em todas as instâncias:
“Temos mulheres sérias e competentes para atuar em qualquer instância do país. Mas ainda somos uma sociedade machista e sexista, com tribunais regionais compostos só por homens.”
Segundo a ministra, cerca de 34% das pessoas na magistratura são mulheres e, entre as advogadas, 8% são negras. Ela pediu mudanças estruturais:
“Precisamos de uma mudança grande na sociedade. Essa ruptura é difícil, mas necessária. E ela não diminui o poder de ninguém.”
Cármen Lúcia também refletiu sobre os desafios das mulheres na política e no Judiciário:
“Fizeram uma sociedade de monólogos entre os homens e esqueceram de nós. Nós, mulheres, continuamos lutando para que sejamos capazes de fazer da vida uma vida boa de se viver.”
Integridade, democracia e o julgamento de Bolsonaro
A ministra ressaltou a integridade e a solidariedade como princípios da democracia:
“Precisamos manter nossa integridade humana, que hoje está mais em risco. Uma sociedade que abdica da própria dignidade perde o seu prumo. O objetivo da República é construir uma sociedade livre e justa. Eu sonho com o dia em que cada brasileiro possa ser o que quiser.”
Ao comentar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses por participação em trama golpista após as eleições de 2022, ela sublinhou a responsabilidade do ofício:
“Voto é uma sentença que o juiz tem que resolver de acordo com a lei. É bom que sejamos julgados por órgãos colegiados e plurais. A função de julgar não é uma tarefa fácil.”
A ministra disse que busca estudar cada caso e apresentar com clareza os fundamentos das decisões, destacando o esforço mundial de explicar ao cidadão o que os tribunais decidem. Ao encerrar, reforçou a necessidade de fortalecer a democracia e reafirmar inclusão e respeito:
“Nós devemos ser modelos para o mundo — não só pela urna eletrônica — e precisamos fazer desta uma pátria amada para todos nós.”


