Amizade entre Lula e Alcolumbre não rende votos do União Brasil
Partido tem três ministérios, mas é o mais infiel da base aliada
247 – Apesar de controlar três ministérios no governo Lula (PT), o União Brasil é o partido que mais protagoniza gestos de infidelidade dentro da base aliada. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira (23), a legenda tem se alinhado com frequência à oposição, assinando requerimentos para CPIs e urgências de votação, rejeitando convites para cargos no governo e até liderando manifestações públicas contra medidas do Planalto — especialmente na área fiscal, coordenada pelo ministro Fernando Haddad.
Em abril, o União Brasil firmou uma federação com o PP em tom oposicionista e, mais recentemente, comandou uma coletiva contra o governo Lula no Salão Verde da Câmara. Na ocasião, o presidente do partido, Antonio Rueda, acusou o governo de colocar o país “em uma rota sem saída” devido ao “desequilíbrio fiscal” e atacou as propostas de aumento de impostos: “Taxar, taxar, taxar, não pode e não será nunca a saída”. O primeiro-vice-presidente do partido, ACM Neto, também adotou tom crítico: “Não faz sentido ocupar cargos e não estar com o governo em 2026”.
A entrevista mais contundente, porém, veio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, pré-candidato à Presidência pela sigla: “Eu tenho 40 anos na vida pública, sou o mais antigo opositor ao PT no Brasil, nunca mudei de lado. A maior certeza que temos no Brasil hoje é que em 2026 nós vamos derrotar o Lula”.
Com 60 deputados federais, sete senadores e quatro governadores, o União Brasil tem uma base grande, mas dividida. A reportagem da Folha identificou apenas três deputados que votaram mais de 80% das vezes com o governo em 2025: Meire Serafim (AC), Damião Feliciano (PB) e Daniela do Waguinho (RJ). Nenhum dos três assinou os requerimentos de CPI ou de urgência propostos pela oposição.
Daniela, ex-ministra do governo Lula e atual vice-líder do governo no Congresso, foi uma das poucas a manifestar apoio explícito ao presidente: “Fui ministra, sou vice-líder do governo no Congresso Nacional e aliada ao presidente Lula”. Já o deputado Juscelino Filho (MA), também ex-ministro das Comunicações, fez uma defesa técnica do papel do partido: “Tem partido que entrega 100% dos votos, mas isso representa cinco ou seis votos. O que realmente importa são os votos absolutos. E nisso, o União Brasil é um dos que mais contribui com o governo na Câmara”.
Outro nome citado como ponte com o Planalto é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que tem indicado nomes para ministérios e estatais e mantém relação pessoal próxima com Lula. No entanto, o peso político dessa aliança não tem se traduzido em votos.
O líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), chegou a recusar publicamente o convite para comandar o Ministério das Comunicações após um motim interno no partido. Em sua justificativa, adotou discurso de moderação: “É natural que, em um partido desse porte, haja divergências pontuais, e isso, para mim, é uma demonstração de vitalidade democrática”.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, tem buscado manter canais de diálogo com a legenda. Em maio, convidou Rueda e Pedro Lucas para um almoço no esforço de pacificar a relação. Mesmo assim, reconheceu que parte da atual base aliada não estará com Lula em 2026.
Com raízes na antiga Arena — o partido da ditadura militar —, o União Brasil é herdeiro do PFL e do DEM, legendas historicamente alinhadas à direita. Sua fusão com o PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito presidente em 2018, consolidou um perfil ideológico heterogêneo. Segundo Juscelino, isso explica as contradições: “Há uma ala mais à direita, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas também temos uma base sólida no Norte e Nordeste, com forte afinidade com o governo”.
No balanço político, a "amizade" com Lula — personificada em Davi Alcolumbre — garante espaços no governo, mas não assegura fidelidade nas votações. A infidelidade crônica do União Brasil coloca em xeque a lógica tradicional do presidencialismo de coalizão e desafia o Planalto a repensar sua articulação com partidos de centro-direita.
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