Sabotagem, chantagem e desinformação: o roteiro das elites contra Lula e o projeto popular em 2026
Enfrentando uma taxa básica de juros absurdamente alta, o governo conseguiu em apenas dois anos recuperar várias políticas sociais desmanteladas
Sabotagem, chantagem e desinformação: O roteiro das elites contra Lula e o Projeto Popular em 2026.
Estamos nos aproximando das eleições gerais de 2026, e a escolha do próximo presidente já movimenta o país. A confirmação de Lula como candidato à reeleição tem provocado uma onda de ataques sucessivos a sua administração, vindos da extrema direita, do Centrão, da mídia corporativa e do mercado financeiro. Esses segmentos atuam de forma articulada e cada vez mais explícita em favor de um candidato da direita que se alinhe aos seus projetos neoliberais.
Além da disputa pela Presidência da República, outro foco de atenção dos partidos políticos é a eleição para o Senado, que renovará dois terços de suas cadeiras. Serão 54 das 81 vagas em disputa. A preocupação em conquistar o maior número possível de assentos decorre do poder estratégico que o Senado detém. Entre suas atribuições mais relevantes, destacam-se a sabatina e aprovação ou rejeição de autoridades indicadas para os principais cargos da República, bem como a responsabilidade de julgar autoridades, inclusive ministros do Supremo Tribunal Federal, em processos de impeachment. Vale lembrar que, nos últimos anos, o STF teve papel decisivo na defesa da Constituição diante das constantes investidas antidemocráticas promovidas pelo governo Bolsonaro. Acrescenta-se a isso o julgamento em curso sobre a tentativa de golpe de Estado, que envolve o ex presidente, militares e civis que integraram sua gestão.
Nesse contexto, a extrema direita, liderada por Bolsonaro e seus aliados, articula-se intensamente para ampliar sua bancada no Senado, consciente de sua relevância institucional. Ao mesmo tempo, a direita liberal (Centrão), a extrema direita (de perfil fascista) e os representantes da elite financeira e da mídia corporativa frequentemente chamada de PIG (Partido da Imprensa Golpista) intensificam suas investidas para viabilizar um nome da direita para a Presidência da República. O nome preferido desses setores é o bolsonarista raiz Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Embora adote um discurso mais palatável, Tarcísio dá continuidade às práticas neoliberais do governo Bolsonaro. Entre suas ações, destacam-se inúmeras privatizações desnecessárias de bens públicos e uma política de segurança pautada pela extrema violência, ambas já alvo de crescentes críticas populares. Em campanha subliminar rumo ao Planalto, Tarcísio tem buscado reforçar sua identificação com o eleitorado evangélico. No palanque da Marcha para Jesus, por exemplo, ele vestiu-se de evangélico e com a bandeira de Israel nos ombros, anunciou a sanção do projeto que reconheceu o grupo gospel Renascer Praise e o próprio evento como patrimônios culturais do Estado de São Paulo. Com esse gesto, o bolsonarista raiz angariou a simpatia, no mínimo, dos dois milhões de fiéis presentes na Marcha.
Outro aspecto a destacar na estratégia de desestabilização do atual governo passa pela manipulação da opinião pública por meio de pesquisas eleitorais recorrentes, muitas das quais com perguntas formuladas de maneira a induzir respostas desfavoráveis à administração federal. Esses resultados são amplificados pela mídia comercial, reforçando o boicote sistemático da oposição às propostas do Executivo e alimentando o tradicional jogo de chantagem no Congresso. Sob a liderança dos presidentes da Câmara e do Senado, o “toma lá, dá cá” continua sendo a tônica, com claro desequilíbrio de forças.
Contudo, apesar desse cenário adverso, os prognósticos seguem favoráveis à reeleição do presidente Lula. Mesmo à frente de um governo que resultou de uma frente ampla, com partidos de centro-direita, que não têm mantido fidelidade às pautas do Executivo e os enfrentamentos sistemáticos num congresso majoritariamente da oposição, o governo Lula tem apresentado resultados positivos na economia e em outras áreas. Enfrentando uma taxa básica de juros absurdamente alta, o governo conseguiu em apenas dois anos recuperar várias políticas sociais desmanteladas durante os governos Temer e Bolsonaro, além de manter o compromisso com a desconcentração de renda, enfrentando forte resistência das forças políticas defensoras dos interesses dos mais ricos.
O mais recente capítulo dessa disputa aconteceu na Câmara dos Deputados, que aprovou por 346 votos a 97 a urgência do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 314/2025 com o fim de suspender os efeitos do Decreto 12.499/25, editado pelo governo Lula. Norma que alterou as regras de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). De maneira cínica, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) alegou que a Câmara “não era favorável ao aumento de impostos com fins de arrecadação”. O que ele omitiu foi o fato de que o decreto não previa aumento de impostos para a população, mas sim um ajuste fiscal para elevar minimamente a tributação sobre setores altamente rentáveis do mercado financeiro. As mudanças incluíam, por exemplo, a elevação da alíquota sobre as apostas eletrônicas, de 12% para 18%; das fintechs, de 9% para 15% na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) equiparando-as aos bancos tradicionais; além da criação de uma alíquota de 5% sobre LCI e LCA, hoje isentas.
Esse episódio escancara a submissão da Câmara ao mercado financeiro, contrariando qualquer discurso de responsabilidade fiscal em favor da população. Como parte desse mesmo movimento, a máquina legislativa liderada por Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) derrubou recentemente diversos vetos do presidente Lula a projetos aprovados pelo Congresso, aumentando significativamente o custo fiscal do país e dificultando a capacidade do Executivo de implementar políticas públicas. Um exemplo claro foi a restauração de dispositivos da Lei das Eólicas Offshore, que resultará num custo de R$ 197 bilhões aos consumidores em 25 anos, acarretando o aumento da conta de luz em 3,5%. O governo terá que editar medida provisória para evitar esse aumento escorchante.
A hipocrisia de Hugo Motta tornou-se ainda mais evidente ao defender publicamente “medidas estruturantes” em nome da responsabilidade fiscal, enquanto, poucos dias depois, atuou como um dos principais articuladores da derrubada de 12 vetos presidenciais em uma única sessão conjunta do Congresso, realizada em 17 de junho de 2025.
Diante de tudo isso, cabe indagar: o que realmente motiva Hugo Motta, Davi Alcolumbre e a maioria dos parlamentares que sistematicamente sabotam o governo? Certamente não são os interesses do povo brasileiro. Suas ações têm como verdadeira força motriz a defesa de privilégios e a manutenção dos benefícios das grandes corporações econômicas e dos segmentos mais ricos da sociedade.
A derrubada em série de vetos, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito mista (CPI mista) por Alcolumbre para investigar descontos indevidos em benefícios do INSS, ambas ocorridas na mesma data, são partes de uma ação coordenada pelo Centrão e pela extrema direita com o objetivo explícito de desgastar o governo Lula e enfraquecê-lo na corrida pela reeleição em 2026. A oposição pretende transformar a CPI em um palco de lacrações e fake news para alimentar o ambiente tóxico das redes sociais e construir um circo midiático. A instalação da comissão não visa apurar os fatos, convocar depoentes, quebrar sigilos e responsabilizar os envolvidos nas irregularidades, tarefas que já estão sendo conduzidas com eficiência pela Policia Federal e pela Controladoria-Geral da União. O foco da oposição se resume em atacar o executivo. No entanto, o tiro pode sair pela culatra, pois as diligencias da PF estão avançadas e muitas revelações devem vir à tona, uma vez que os descontos indevidos iniciaram entre 2019 e 2022, durante o governo anterior.
O Congresso Nacional, na configuração atual, tem legislado não para o povo, mas contra o povo. Sua atuação reflete a subserviência aos lobbies das grandes corporações econômicas e à manutenção de privilégios próprios. A população, por sua vez, segue sendo alvo de discursos populistas e enganadores.
A esse cenário político se soma a atuação cotidiana da mídia corporativa, que promove um veto sistemático ao governo por meio de seus comentaristas e analistas. Quando, porventura, algum jornalista tenta romper com essa lógica e apresenta uma análise baseada nos fatos, acaba censurado, como ocorreu recentemente com o jornalista Guga Chacra. O episódio escancarou a intolerância das redações com qualquer narrativa que fuja ao determinado pelos proprietários desses meios de comunicação. As críticas infundadas publicadas por jornais como Folha de S. Paulo, Estadão e veiculadas por canais como Globo, CNN entre outros alimentam um ciclo de desinformação, no qual a opinião pública, manipulada, passa a reproduzir de boa-fé as distorções disseminadas de má-fé.
Nessa materialidade, a disputa eleitoral de 2026 será travada em um ambiente político e midiático fortemente adverso ao governo Lula. A aliança entre o Centrão, a extrema direita, o mercado financeiro e a mídia comercial constitui uma frente hostil que opera, diariamente, para sabotar as ações do Executivo, desinformar a população e inviabilizar qualquer projeto de desenvolvimento social e econômico que ameace os privilégios das elites. Cabe aos movimentos populares e aos setores progressistas ampliar a capacidade de mobilização e construir formas concretas de resistência e enfrentamento político, em defesa da democracia, dos direitos sociais e de um projeto de país baseado na justiça social e na superação das desigualdades históricas.
Reafirmo também, como já expressei em textos anteriores, a necessidade de que Lula e os integrantes de seu governo, verdadeiramente comprometidos com um projeto de nação popular e progressista, estabeleçam diálogos sistemáticos com o povo, utilizando os mais diversos canais de comunicação. É fundamental expor de forma estratégica as pressões enfrentadas junto a um Congresso Nacional historicamente voltado aos interesses das elites e movido pela ânsia por fatias cada vez maiores de emendas parlamentares.
É imprescindível denunciar as chantagens a que o governo é submetido para evitar, em um único dia, a derrubada sabotadora de diversos vetos a projetos de lei que atendem a interesses específicos e distantes das reais necessidades da população. Também se faz necessário desmontar as notícias e análises distorcidas produzidas pela mídia corporativa sobre os atos do governo.
É importante explicar com argumentos claros, objetivos e exemplos concretos os efeitos das políticas públicas no cotidiano das pessoas. É preciso divulgar com precisão os avanços já concretizados nas áreas da educação, saúde, trabalho, na política de valorização real do salário mínimo e nas medidas de contenção do custo dos alimentos.
Da mesma forma, o governo deve detalhar os impactos, a curto, médio e longo prazo, das propostas de taxação dos mais ricos e seus efeitos positivos na vida da população que menos ganha e mais paga impostos. Diante de tantos atravessamentos comunicacionais massivos e refratários à realidade, que desinformam e assediam o povo diariamente, é urgente e necessário que o governo esteja, de fato, onde o povo está.
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