Lula deve retomar críticas a Trump em discurso no Chile

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou neste domingo (20) em Santiago, no Chile, para participar de uma reunião multilateral em defesa da democracia. Segundo informações do jornal Valor Econômico, Lula deve aproveitar o encontro para voltar a criticar a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diante do Brasil, em especial pelas recentes sanções econômicas e ameaças à autonomia das instituições brasileiras.

A expectativa no Palácio do Planalto é de que o presidente brasileiro adote um tom firme contra a extrema-direita global, denunciando práticas de ingerência e retaliação promovidas pelo governo norte-americano. Recentemente, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e, por meio do secretário de Estado, Marco Rubio, revogou os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo auxiliares de Lula, a principal preocupação é a possibilidade de o governo dos Estados Unidos tentar influenciar diretamente as eleições presidenciais de 2026, quando Lula deve disputar a reeleição.

A apreensão do governo brasileiro ganhou novos contornos depois que o próprio Trump admitiu, publicamente, ter adotado sanções contra o Brasil como uma forma de proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de condenações no STF, onde responde por tentativa de golpe de Estado. A declaração foi vista como uma evidência clara da intenção de influenciar o cenário político brasileiro, favorecendo forças de extrema-direita.

O ambiente de tensão aumentou ainda mais após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, afirmar em uma live neste sábado (20) que Trump não reconhecerá o resultado das eleições presidenciais brasileiras caso Jair Bolsonaro permaneça fora da disputa. “Trump não vai reconhecer quaisquer eleições presidenciais que não contem com a participação do presidente Bolsonaro”, disse Eduardo. O ex-presidente, porém, foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, só podendo voltar a disputar eleições em 2030.

A reunião em Santiago ocorre nesta segunda-feira (21) e contará com a participação de presidentes progressistas da região, como Gabriel Boric (Chile), Yamandú Orsi (Uruguai), Pedro Sánchez (Espanha) e Gustavo Petro (Colômbia). Apesar do alinhamento político, o Itamaraty avalia como pouco provável a assinatura de um comunicado conjunto em defesa do Brasil ou contra a ingerência norte-americana. A pauta oficial do encontro inclui três temas centrais: defesa da democracia e do multilateralismo, combate às desigualdades e regulação das tecnologias digitais com foco no enfrentamento da desinformação.

Em nota divulgada neste sábado (19), o Itamaraty destacou que a reunião no Chile dará continuidade ao encontro “Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo”, realizado em setembro de 2024. Ainda no sábado, Lula divulgou nota à imprensa classificando como “arbitrária e completamente sem fundamento” a decisão do secretário de Estado dos Estados Unidos de revogar os vistos de ministros do STF. “A interferência de um país no sistema de Justiça de outro país é inaceitável”, afirmou Lula. Ele concluiu reforçando que nenhuma intimidação irá abalar a missão essencial dos poderes nacionais: “atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito”.