Edinho Silva alerta para expansão da extrema direita e chama Trump de fascista
Presidente do PT vê paralelos entre a ascensão da extrema direita contemporânea e os erros de normalização que ocorreram no cenário europeu pré-guerra
247 – O presidente do PT, Edinho Silva, reafirmou em entrevista à Folha de S. Paulo que não retira sua definição sobre Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos. “Trump é um fascista”, disse o dirigente, destacando que sua caracterização se baseia em elementos históricos e políticos que, segundo ele, se assemelham ao período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.
Mesmo diante da aproximação diplomática que o presidente Lula tem buscado com o governo norte-americano, Edinho Silva foi taxativo: “Não recuo um milímetro da minha caracterização do Trump”. Para o sociólogo e ex-prefeito de Araraquara, há paralelos claros entre a ascensão da extrema direita contemporânea e os erros de normalização que ocorreram no cenário europeu pré-guerra.
Crítica à extrema direita global
O dirigente petista afirmou que vê no atual cenário mundial sinais de uma “crise longa do capitalismo”, iniciada em 2008, que abriu espaço para a ascensão de uma agenda de direita “xenófoba, absurda e violenta”. “Não conseguimos sair dessa crise”, avaliou. Segundo ele, o empobrecimento das classes médias provoca descrença nas instituições, e a primeira vítima desse processo é a democracia liberal.
Durante a entrevista, Edinho criticou duramente medidas do presidente dos EUA contra imigrantes. “Trump deporta imigrantes algemados, separa famílias da Costa Rica, transformou El Salvador em um campo de concentração. Só o nazismo fez semelhante. É uma manifestação racista”, disse. Ele também classificou como expansionista a postura do republicano, ao mencionar declarações sobre anexar o Canadá e ocupar a Groenlândia.
O papel do Brasil e a defesa do diálogo
Apesar das críticas contundentes ao mandatário norte-americano, Edinho reconheceu que Lula mantém a tradição da diplomacia brasileira de dialogar com o governo de turno nos EUA. “O Brasil quer continuar construindo uma relação com os EUA, como sempre teve. Estamos dialogando com o governante da época. A soberania brasileira não está em negociação”, afirmou.
Edinho ressaltou que o presidente Lula tem atuado em favor de saídas negociadas para conflitos, citando como exemplo a guerra na Ucrânia e a situação em Gaza. “O Hamas tem que ser penalizado, mas não podemos permitir que o povo palestino seja literalmente dizimado”, disse, acrescentando que o Brasil defende a valorização da ONU como instrumento de mediação internacional.
Desafios para a esquerda
Na próxima semana, Edinho Silva estará na Alemanha para encontros com parlamentares do SPD, partido social-democrata que integra a coalizão do governo de Friedrich Merz. Segundo ele, a viagem tem como objetivo compreender de perto as críticas europeias sobre os rumos da esquerda e avaliar formas de cooperação.
Entre os principais desafios que enxerga para os movimentos progressistas, Edinho destacou a necessidade de repensar a democracia representativa, valorizar mecanismos de democracia direta e enfrentar as grandes fortunas em escala global. “Mais do que nunca, a democracia direta tem que ser valorizada. Temos experiências no Brasil e a Alemanha também tem”, defendeu.
A crise climática também foi apontada como prioridade. “O mundo vai pagar um preço caríssimo pela destruição da natureza. Não podemos abrir mão do enfrentamento à urgência climática”, disse.
Amazônia e soberania nacional
Sobre as críticas europeias à exploração de petróleo na Amazônia, Edinho afirmou que é preciso levar em consideração a realidade brasileira. “Um país com tantas pobrezas, com tantos déficits sociais, não pode abrir mão de riqueza. Seria inconsequente. Precisamos criar fundos para a recuperação da floresta e para o desenvolvimento da Amazônia legal”, afirmou, defendendo que o olhar europeu muitas vezes ignora as necessidades sociais da região.
Aos 60 anos, Edinho Silva preside o PT desde agosto. Sociólogo formado pela Unesp e mestre em engenharia de produção pela UFSCar, ele foi prefeito de Araraquara por quatro mandatos, deputado estadual, vereador, ministro da Secretaria de Comunicação Social de Dilma Rousseff e coordenador da campanha presidencial de Lula em 2022. Sua militância política começou nas pastorais da Igreja Católica, e é filiado ao PT desde 1985.