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Três ex-executivos da Ambipar já são investigados por possíveis fraudes internas

Empresa afirma ter sido vítima de gestão temerária e falsificação de documentos e obteve abertura de inquérito para apurar responsabilidades

Funcionário da Ambipar (Foto: Reprodução/Reset)

247 – A Ambipar, uma das principais companhias brasileiras do setor ambiental e de gestão de resíduos, transformou uma disputa financeira em uma investigação criminal que busca apurar possíveis irregularidades cometidas por ex-dirigentes da própria empresa.

Segundo informações do Valor, a companhia apresentou queixa formal e obteve a instauração de inquérito policial contra três ex-executivos — o ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda, o ex-diretor executivo Carlos Daniel Braga Coradi e o ex-diretor de relações com investidores Pedro Borges Petersen — por suspeitas de falsidade ideológica, fraudes, abusos administrativos e estelionato.

A investigação, conduzida pela Polícia Civil de São Paulo, tem como foco operações financeiras realizadas sem o conhecimento ou a autorização do conselho de administração da Ambipar. Segundo a empresa, o grupo teria alterado contratos estratégicos de derivativos cambiais, comprometendo políticas internas de proteção e provocando perdas expressivas.

Os documentos obtidos pela reportagem indicam que, em 2023, a subsidiária Ambipar Lux, sediada em Luxemburgo, realizou a emissão de green bonds no valor de US$ 750 milhões (R$ 4 bilhões), com vencimento em 2031. Para se proteger das variações cambiais, a companhia havia firmado um contrato de swap com o Bank of America.

De acordo com a denúncia, os ex-executivos, liderados por Arruda, transferiram indevidamente esses contratos para o Deutsche Bank, adicionando cláusulas que vinculavam a operação dos swaps à precificação dos títulos. Essa alteração, segundo a Ambipar, descaracterizou o instrumento de proteção e o transformou em um mecanismo especulativo.

A empresa sustenta que a mudança resultou em exigências de garantias adicionais, totalizando mais de R$ 200 milhões em um curto período. Além disso, as novas condições ampliaram o risco de vencimento antecipado e cruzado das dívidas, o que poderia gerar um colapso financeiro estimado em até R$ 10 bilhões.

Com base nessas alegações, a Ambipar obteve uma liminar na Justiça do Rio de Janeiro para suspender cobranças antecipadas e evitar um possível efeito dominó sobre suas operações. A decisão atinge grandes instituições financeiras, como Deutsche Bank, Santander, Itaú e Bradesco, que contestam a medida e pedem a transferência do caso para a Justiça de São Paulo.

Enquanto a defesa do ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda alega “denunciação caluniosa” e afirma que “narrativas falaciosas não resistirão às evidências”, a Ambipar mantém a posição de que foi vítima de condutas irregulares e agiu para proteger sua governança e seus investidores.

A investigação segue em andamento e poderá esclarecer a extensão dos danos e das responsabilidades individuais, num caso que expõe os riscos da quebra de confiança em cargos de alta administração corporativa.

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