Mercado de energia no Brasil enfrenta queda de quase 40% em transações
Restrição de crédito e mudanças estruturais impactam o setor, apesar de sinais de recuperação no quarto trimestre
247 - O mercado de energia no Brasil sofreu uma queda significativa nas transações realizadas no mercado livre, com uma redução de quase 40% no volume negociado em comparação ao ano passado. A análise, realizada pelo Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), aponta que as restrições de crédito e a volatilidade gerada por mudanças estruturais na matriz elétrica são os principais fatores por trás desse desempenho.
A BBCE, plataforma eletrônica que facilita a transação de energia no país, revelou que, entre janeiro e setembro de 2025, o volume de energia negociada caiu 37,2%, totalizando 307,341 terawatts-hora (TWh). Em termos financeiros, o recuo foi de 3%, totalizando R$ 70,1 bilhões, um valor sustentado pelos preços mais altos.
As mudanças na matriz energética brasileira, especialmente com a crescente participação da energia solar, geraram instabilidade nas cotações. A energia solar, atualmente a segunda maior fonte de geração de energia no país, tem influenciado diretamente o preço no mercado spot. Em momentos de pico de geração solar, o preço da energia pode cair para R$58,6 por megawatt-hora (MWh), mas, nas horas subsequentes, os preços podem superar os R$250/MWh.
“O mercado trabalha muito bem com o risco hidrológico, está muito acostumado com isso... Mas a complexidade da matriz está aumentando tanto que os fatores de volatilidade hoje são muito diversos... Você precisa desapegar dos conceitos antigos que você tinha da matriz, o mercado está aprendendo”, comentou Eduardo Rossetti, diretor-executivo Comercial da BBCE.
Rossetti também destacou os impactos das restrições de crédito, um reflexo da inadimplência da comercializadora Gold Energia no final do ano passado. Essa situação abalou a confiança no setor, fazendo com que muitos agentes se mostrassem mais cautelosos. “A questão é: qual é a natureza dessa volatilidade (de preços de energia), ao que ela se deve, e o que o mercado está conseguindo antecipar dela? E se consegue (antecipar), há liquidez pra entrar e sair das posições?”, questionou o executivo. A queda nos contratos de energia também pode ser explicada por uma base comparativa forte em 2024, quando o mercado alcançou números recordes devido à seca severa e aos aumentos de carga que ampliaram a volatilidade dos preços.
Apesar da retração nos primeiros meses de 2025, o mercado começou a mostrar sinais de recuperação a partir de outubro, com a chegada das chuvas e uma mudança nas tendências de preços, que caíram abaixo de R$300/MWh.
Rossetti acredita que o quarto trimestre será mais promissor em termos de transações do que o mesmo período do ano passado, quando a incerteza sobre o possível default da comercializadora Gold causou um impacto negativo no mercado. “A gente começou a ver os mapas molhando mais do que o esperado. E a gente viu o movimento (de negociações) aumentar nesses primeiros dias de outubro”, afirmou. Além disso, o final de ano costuma ser um período de maior movimentação no setor, devido à sazonalização dos contratos de energia, com ajustes de portfólio realizados em novembro e dezembro.