iFood usa inteligência artificial para expandir crédito
Com R$ 2 bilhões concedidos, fintech do iFood quer ampliar operações financeiras e mira licença bancária completa até 2026
247 - A consolidação do iFood como líder no setor de delivery abriu caminho para a criação de novas áreas de negócio que vão muito além da entrega de refeições. Entre elas, o braço financeiro da empresa vem se destacando como uma das frentes mais promissoras.
Segundo reportagem da Broadcast, assinada por Gabriel Baldocchi, Talita Nascimento e Aramis Merki II, a fintech do grupo — criada em 2019 para apoiar restaurantes parceiros — já movimenta R$ 160 milhões em financiamentos mensais e acumula R$ 2 bilhões em crédito concedido. A operação conta hoje com 175 mil contas ativas e já é responsável por parte relevante das receitas da companhia, que tem 20% de seu faturamento vindo de fontes fora do delivery tradicional.
IA impulsiona crédito e reduz risco
A inteligência artificial tem sido peça-chave no sucesso da operação. O CEO do iFood, Diego Barreto, explica que a empresa desenvolveu um algoritmo capaz de avaliar com precisão a saúde financeira dos restaurantes e prever a probabilidade de inadimplência.
“Criamos um algoritmo que enxerga a capacidade operacional de um restaurante e dá uma nota de sustentabilidade operacional e financeira”, afirmou Barreto. “Se o restaurante cancela poucos pedidos, agrada os consumidores e mantém estabilidade de preços, o modelo entende que dificilmente ele enfrentará problemas financeiros.”
Com base nesses indicadores, o sistema identifica quais estabelecimentos têm maior chance de permanecer na plataforma, o que permite oferecer crédito mesmo a empreendedores que não têm acesso fácil a bancos tradicionais.
Rumo a um banco completo
Atualmente, o iFood Pago possui duas licenças emitidas pelo Banco Central — Instituição de Pagamento (IP) e Sociedade de Crédito Direto (SCD). O próximo passo é conquistar uma nova autorização regulatória que permita à empresa atuar como banco comercial, oferecendo contas com depósito e serviços para pessoas físicas.
O plano de expansão pode envolver parcerias estratégicas com instituições financeiras e deve consolidar o iFood como um player relevante no sistema bancário digital brasileiro.
Benefícios e meios de pagamento
O iFood também avança no segmento de benefícios corporativos. Criado em 2020, o vale-refeição iFood já soma 856 mil usuários ativos e tem sido um dos principais defensores da abertura desse mercado em Brasília, defendendo regras que garantam portabilidade e interoperabilidade entre sistemas.
Outra aposta da empresa é a maquininha de cartões própria, lançada para integrar pagamentos diretamente ao aplicativo. O terminal já movimentou R$ 925 milhões em transações e deve alcançar 4 mil restaurantes até 2026.
Cultura de inovação
A expansão para o setor financeiro é reflexo de uma cultura corporativa baseada na inovação contínua. Sob a liderança do ex-CEO Fabricio Bloisi, o iFood criou um modelo interno de experimentação chamado “jet-skis” — projetos-piloto de novas áreas de negócio testados antes de se tornarem operações oficiais. Em 2023, havia 20 dessas iniciativas em desenvolvimento.
Bloisi, hoje CEO da Prosus, grupo controlador do iFood e investidor global em tecnologia, é visto como o principal mentor dessa estratégia. Já Diego Barreto assumiu recentemente a liderança da Prosus na América Latina, ampliando seu papel na condução de novos negócios da companhia.
Durante entrevista concedida à Broadcast, Barreto participou de um evento do Google para empreendedores globais, no qual discutiu o impacto das próximas revoluções tecnológicas.
“Existe uma visão muito clara de que o nível de produtividade vai explodir no mundo nos próximos cinco anos”, afirmou, referindo-se ao avanço da inteligência artificial, da robótica e da computação quântica.
Com essa combinação de tecnologia, dados e inovação, o iFood se prepara para uma nova etapa: transformar-se de empresa de delivery em uma plataforma financeira completa, pronta para disputar espaço com bancos digitais e fintechs consolidadas no país.


