Exportações de carros chineses disparam, puxadas pela BYD
Crescimento de 89% nas vendas externas de veículos elétricos reforça protagonismo da China e da BYD
247 – As exportações de carros chineses dispararam em 2025, impulsionadas pelo avanço das montadoras de veículos elétricos, especialmente a BYD, que vem liderando uma transformação industrial e geopolítica sem precedentes. Segundo dados divulgados pela revista econômica Caixin Global, o volume de exportações de veículos de nova energia (NEV) — categoria que inclui carros elétricos e híbridos — aumentou 89% em relação ao ano anterior, consolidando a China como o principal polo mundial da transição automotiva.
A BYD tornou-se o símbolo dessa nova fase. A empresa, que já ultrapassou a Tesla em vendas globais de elétricos, ampliou suas operações na Europa, na América Latina e no Sudeste Asiático, enquanto instala fábricas em países como Hungria e Brasil. Seu modelo de expansão — apoiado por políticas estatais e incentivos fiscais — demonstra o poder de coordenação industrial da China, mas também provoca tensões comerciais e políticas em escala global.
O crescimento das exportações não é apenas resultado de competitividade técnica. Ele reflete o planejamento estratégico do Estado chinês, que há mais de uma década aposta em veículos elétricos como vetor de desenvolvimento e soberania tecnológica. Subsídios robustos, domínio sobre a cadeia de baterias e controle do fornecimento de matérias-primas como lítio e cobalto permitiram à China construir uma vantagem quase intransponível frente aos concorrentes ocidentais.
Nos Estados Unidos e na Europa, o sucesso das montadoras chinesas acendeu alertas. Fabricantes locais pressionam por tarifas protecionistas e medidas de defesa comercial, alegando “concorrência desleal”. O tema já chegou à mesa de Donald Trump, que durante sua campanha presidencial prometeu “reindustrializar o setor automotivo americano” e reduzir a dependência de importações chinesas.
Especialistas apontam, porém, que a ofensiva chinesa vai além da economia: ela representa uma estratégia de poder global, com implicações políticas e diplomáticas. Ao dominar o mercado de veículos elétricos, a China também exporta influência, tecnologia e padrões industriais. Países que aderem em massa a veículos chineses — e às suas baterias — acabam integrando-se à esfera tecnológica de Pequim, o que amplia o alcance político do país asiático.
Apesar das críticas ocidentais, o avanço da BYD é visto internamente como uma vitória nacional e um exemplo do sucesso do modelo de planejamento estatal. Para o governo chinês, o salto de 89% nas exportações não é apenas um dado econômico, mas a comprovação de que a política industrial baseada em investimento público e coordenação central pode redefinir o equilíbrio global da mobilidade.
No entanto, essa expansão também traz riscos. Ao priorizar exportações em larga escala, a China se expõe a reação protecionista dos principais blocos econômicos e à volatilidade dos mercados externos. Ainda assim, o movimento é claro: a era dos combustíveis fósseis cede espaço à hegemonia elétrica chinesa — e a BYD, com o apoio direto do Estado, está no centro dessa nova ordem automotiva.
No Brasil, o avanço da BYD coincide com a implementação do programa Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo Lula para reconstruir a capacidade produtiva nacional com foco em sustentabilidade e inovação tecnológica. A instalação da fábrica da BYD na Bahia, no antigo complexo da Ford, simboliza o novo ciclo de reindustrialização verde defendido pelo governo, que busca transformar o país em protagonista regional da mobilidade elétrica. A parceria com empresas chinesas, se bem conduzida, pode fortalecer a integração produtiva sul-americana e reduzir a dependência de importações de alto valor agregado — desde que o Brasil mantenha uma política industrial soberana e ativa.


