Ambipar contrata FTI Consulting para investigar ex-diretor financeiro
Empresa tenta apurar responsabilidades de operação cambial que agravou crise e levou ao pedido de recuperação judicial
247 – A Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. (B3: AMBP3) contratou a FTI Consulting para conduzir uma investigação independente sobre as operações financeiras realizadas durante a gestão do ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda. A informação foi divulgada pelo Brazil Stock Guide, que revelou os bastidores da decisão aprovada pelo conselho de administração em 20 de outubro de 2025.
O anúncio ocorre no momento em que a empresa protocolou pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro, em uma tentativa de preservar suas atividades, manter milhares de empregos e garantir a continuidade de seus serviços ambientais essenciais. Segundo ata do conselho, a apuração será “técnica, imparcial e abrangente”, com foco nos contratos de swap cambial e nas estruturas de investimento executadas pela antiga equipe financeira.
Operação cambial se transformou em crise de confiança
A investigação foi motivada por reportagens do Brazil Stock Guide que detalharam como uma operação de hedge, planejada para proteger a empresa contra oscilações cambiais, se converteu em um mecanismo de destruição de liquidez. O contrato, formulado sob supervisão de Arruda, resultou em chamadas de margem sucessivas, consumindo caixa e desencadeando um efeito dominó de risco financeiro.
Parte dessas operações foi ligada aos títulos verdes (green bonds) emitidos pela Ambipar com vencimentos em 2024 e 2025. À medida que esses papéis perdiam valor no mercado, as exigências de garantia aumentavam, agravando a crise e comprometendo a confiança de investidores e credores.
Trajetória do ex-CFO e agravamento da crise
João Daniel Piran de Arruda assumiu a diretoria financeira da Ambipar em agosto de 2024, trazendo experiência em derivativos e dívida corporativa no mercado bancário. Ele promoveu a migração da carteira de hedge para o Deutsche Bank, com cláusulas que atrelaram o fluxo de caixa da empresa à performance de seus próprios títulos verdes.
Com a queda desses títulos, os chamados de margem se multiplicaram. As fragilidades da gestão financeira se tornaram mais evidentes, e Arruda deixou o cargo de forma repentina em setembro de 2025, poucos dias antes do colapso da operação de hedge e da liquidação dos COEs vinculados aos bonds.
Passo rumo à responsabilização
A entrada da FTI Consulting, empresa sediada em Washington e com atuação em mais de 30 países, representa uma transição de estratégia — da contenção de danos para a apuração de responsabilidades. A consultoria é reconhecida mundialmente por investigar fraudes corporativas e conduzir reestruturações complexas, e sua atuação deve fornecer embasamento técnico para eventuais ações judiciais e decisões do conselho.
Com a crise ainda em curso, a investigação sobre a gestão de Arruda se coloca no centro de um dos episódios mais graves de falhas de governança corporativa do mercado brasileiro nos últimos anos.


