Zelensky renova gabinete, tenta atrair Trump e busca conquistar apoio popular
Com nova primeira-ministra e troca no Ministério da Defesa, Zelensky busca revitalizar economia de guerra e estreitar laços com o governo Trump
247 - Em meio à prolongada guerra com a Rússia e ao desgaste político interno, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, realiza uma significativa remodelação em seu governo ao nomear uma nova primeira-ministra. A decisão busca organizar os gastos de defesa, impulsionar a economia de guerra e também reposicionar a Ucrânia diante do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
A informação foi divulgada pela agência Reuters nesta quarta-feira (16), antecipando que a economista Yulia Svyrydenko, de 39 anos, deverá ser confirmada pelo Parlamento como nova primeira-ministra nesta quinta-feira. Será a primeira troca de chefe de governo desde o início da guerra e a primeira mulher a ocupar o cargo em tempos de conflito. Sua principal missão será revitalizar a incipiente indústria bélica ucraniana e manter a economia funcionando com o apoio de credores ocidentais.
A nomeação também é interpretada como um gesto direto a Washington, especialmente ao novo governo Trump, após a desastrosa visita de Zelensky à Casa Branca em fevereiro. Svyrydenko tem bom trânsito na capital norte-americana e foi uma das principais articuladoras de um recente acordo que concedeu aos EUA acesso privilegiado a vastas reservas minerais da Ucrânia.
“Para nós, é uma parceria que não se trata apenas de dinheiro, mas de valores, de projetos conjuntos e, de modo geral, de nosso movimento comum para avançarmos juntos”, afirmou o analista político Mykola Davydiuk, resumindo a lógica da escolha de Zelenski.
O atual primeiro-ministro Denys Shmyhal, que ocupava o cargo desde 2020 e era o mais longevo da história recente ucraniana, deverá ser deslocado para o Ministério da Defesa. A mudança sinaliza a centralidade da pasta militar na estratégia do governo para resistir à ofensiva russa. Embora visto como um rebaixamento, a transferência leva um tecnocrata experiente ao comando do ministério que gerencia a maior fatia do orçamento ucraniano.
Em 2025, os gastos com defesa somam 2,23 trilhões de hryvnias (cerca de US$ 53,2 bilhões), o equivalente a 26% do Produto Interno Bruto do país. No entanto, o ministério tem enfrentado duras críticas por má gestão e ineficiência nas compras militares.
“Este é um ministério que, praticamente desde o início da guerra, sofre com a falta de gestão sistêmica”, avaliou Hlib Vyshlinsky, diretor do Centro de Estratégia Econômica em Kiev. Para ele, a entrada de Shmyhal representa “um passo extremamente positivo”.
O desafio de financiamento externo se acentua. Segundo autoridades ucranianas, o país precisará de cerca de US$ 40 bilhões em ajuda internacional em 2026 e poderá enfrentar um déficit de até US$ 19 bilhões. A dependência de recursos externos, combinada com o crescimento dos gastos militares, torna a situação fiscal cada vez mais delicada.
“Manter a estabilidade só se tornará mais difícil à medida que a guerra se arrasta”, alertou o deputado da oposição Andrii Osadchuk. Para ele, a escassez de quadros qualificados no alto escalão agrava os riscos de estagnação política.
Apesar do discurso de renovação, a reestruturação de gabinete não agradou a todos. Críticos apontam que Zelensky continua concentrando o poder em um grupo restrito de aliados, sem abrir espaço para novos talentos.
“O pequeno banco de funcionários de Zelensky há muito se transformou em um banco onde cabem talvez cinco ou seis gerentes”, disparou a deputada Iryna Herashchenko, do partido do ex-presidente Petro Poroshenko. “A única inovação (na nomeação de Svyrydenko) é que uma gerente mulher foi adicionada.”
Nos bastidores, o governo também sofreu recente desgaste ao barrar a nomeação de um chefe de segurança econômica aprovado por unanimidade por um comitê com supervisão internacional, o que gerou protestos da sociedade civil e do setor empresarial.
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