Villepin critica acordo da União Europeia com os EUA: “Declaração de dependência”

247 – O ex-primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, juntou-se neste domingo (27) às vozes críticas ao acordo comercial firmado entre a União Europeia e os Estados Unidos. Em publicação contundente na rede X (antigo Twitter), ele classificou o tratado como uma verdadeira “Declaração de Dependência europeia”, referindo-se ironicamente à data — 27 de julho de 2025 — como um marco de rendição da UE aos interesses norte-americanos, sob a liderança do presidente Donald Trump.

A crítica de Villepin se soma à já expressa por Marine Le Pen, líder da Reunião Nacional, que chamou o acordo de “fiasco político, econômico e moral”. Ambos os posicionamentos expõem o crescente descontentamento na França com a forma como a Comissão Europeia, sob comando de Ursula von der Leyen, conduziu as negociações com Washington.

Para Villepin, o tratado apresenta três falhas fundamentais. Em suas palavras:

 “Um tratado desigual, onde um paga tarifas alfandegárias de 15%, mas o outro nenhuma. Como não chamar isso de tributo?”

 “Um acordo de investimento de 600 bilhões de dólares em um único sentido — mas que custo em empregos isso terá para a Europa?”

 “Uma venda forçada de 750 bilhões de dólares em energia — mas com que impacto sobre a soberania energética europeia e a descarbonização, especialmente em relação ao objetivo de emissões líquidas zero?”

As cláusulas criticadas por Villepin dizem respeito ao compromisso da UE de comprar gás natural liquefeito (GNL) e combustível nuclear dos Estados Unidos no valor de US$ 750 bilhões em três anos, como revelou a presidente da Comissão Europeia à agência Reuters. Além disso, o acordo prevê tarifa de 15% sobre a maioria dos produtos europeus exportados para os EUA — incluindo automóveis, semicondutores e fármacos — sem contrapartida tarifária equivalente.

Villepin também alertou para os riscos de longo prazo do tratado. Segundo ele:

 “É ilusório acreditar que Donald Trump se deterá aqui em suas exigências diante de uma Europa cuja soberania ele despreza.”

 “Também é ilusório pensar que um futuro presidente americano mais razoável revogará essa barganha das tarifas sem exigir novas contrapartidas.”

As declarações de Villepin revelam um posicionamento firme em defesa da autonomia europeia, criticando a subordinação da política comercial e energética da UE aos interesses dos Estados Unidos. O ex-premiê, conhecido por sua postura independente e por ter se oposto à guerra do Iraque em 2003, volta a se destacar como voz de dissenso dentro da elite política francesa.

Enquanto Ursula von der Leyen insiste que o acordo foi “o melhor que conseguimos” diante da ameaça de tarifas mais severas por parte de Washington, o debate sobre os custos estratégicos dessa decisão promete se intensificar — não apenas em Paris, mas em todo o bloco europeu. Confira: