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Túnel do Estreito de Bering pode unir EUA e Rússia, dizem especialistas

Fundo russo mostra interesse em obra que conectaria Alasca à Sibéria por ferrovia sob o oceano

Gráfico do projeto proposto para um túnel ferroviário "Putin-Trump" sob o Estreito de Bering (Foto: Kirill Dmitriev/ X /@kadmitriev via REUTERS)

247 - A proposta de construção de um túnel ferroviário sob o Estreito de Bering, conectando o Alasca à Sibéria, voltou ao centro das discussões internacionais após uma mesa-redonda realizada nesta quarta-feira (22). O evento foi promovido pela Executive Intelligence Review (EIR), serviço de notícias fundado em 1974, e reuniu especialistas em engenharia, desenvolvimento ferroviário, finanças e diplomacia de quatro países.

Segundo comunicado divulgado pela EIR nesta quinta-feira, 23 de outubro, a discussão ganhou força após o CEO do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e enviado especial do Kremlin, Kirill Dmitriev, ter proposto a construção conjunta de um túnel batizado de "Túnel Putin-Trump". O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou a ideia como interessante e prometeu analisá-la.

Projeto pode ser concluído em até 15 anos

O encontro de duas horas, intitulado "O projeto do túnel do Estreito de Bering pode abrir uma nova era de paz através do desenvolvimento", contou com a participação de especialistas dos Estados Unidos, Rússia, Itália e Alemanha. Entre os participantes estavam Scott Spencer, consultor-chefe do projeto da InterContinental Railway, e o Dr. Viktor Razbegin, economista e engenheiro russo que preside a filial russa do Interhemispheric Bering Strait Tunnel & Railroad Group desde 1993.

Razbegin informou que os estudos de viabilidade já foram concluídos e que o projeto levaria cerca de 10 a 15 anos para ser finalizado. O especialista russo enfatizou que um dos principais resultados seria o fim da intensa crise entre os Estados Unidos e a Rússia.

Spencer destacou que o túnel se pagaria com folga por meio de seu impacto no comércio global e pelo acesso a matérias-primas que proporcionaria. O tamanho e a escala do empreendimento foram apontados como elementos transformadores para a produtividade dos continentes da América do Norte e da Eurásia.

Fundo russo demonstra apoio à iniciativa

Uma das surpresas do evento foi a participação de Azer Mamedov, primeiro vice-presidente executivo do Fundo Russo de Investimento Direto. Mamedov afirmou estar acompanhando a "discussão extremamente perspicaz" com grande interesse e declarou que o RDIF "acredita que o projeto é muito importante, pois proporcionará um potencial significativo para o desenvolvimento econômico dos continentes, não apenas dos países".

O executivo acrescentou que a instituição está "empenhada em encontrar uma maneira de implementar o projeto em um futuro próximo", sinalizando apoio concreto à iniciativa que é defendida há décadas por organizações internacionais.

Infraestrutura como ferramenta de paz

A mesa-redonda foi iniciada por Helga Zepp-LaRouche, editora-chefe da EIR e fundadora do Instituto Schiller. A alemã, que promove o projeto desde a década de 1970 ao lado de seu falecido marido Lyndon LaRouche, afirmou que a conexão ferroviária "é muito provavelmente a resposta para a questão de termos guerra ou paz".

Zepp-LaRouche argumentou que a cooperação entre os Estados Unidos e a Rússia, substituindo o confronto pela colaboração, "pode ser o divisor de águas que marca o afastamento do momento extremamente perigoso da história em que vivemos atualmente". O painel também contou com a participação do professor Enzo Siviero, diretor da eCampus University da Itália, e do Dr. Alexander Bobrov, chefe da Divisão de Estudos Diplomáticos do Instituto de Estudos Estratégicos e Previsões da Universidade RUDN.

Conexão entre continentes e culturas

Um tema central abordado por todos os palestrantes foi o poder transformador do projeto quando concebido em conjunto com as extensas linhas ferroviárias alimentadoras necessárias para criar uma rede global integrada. A proposta prevê que a conexão se estenda, através de outros túneis e pontes, a todos os continentes, transformando não apenas as relações comerciais, mas também as conexões entre povos, nações e culturas.

Uma pergunta ao painel sobre se o início do projeto poderia amenizar o atual perigo de uma guerra nuclear foi levada a sério por todos os participantes, evidenciando a dimensão geopolítica da discussão.

Zepp-LaRouche concluiu o evento observando que "a ideia de uma infraestrutura que conecte as pessoas e mude a mentalidade, fazendo com que elas cresçam como uma única humanidade, superando a geopolítica e compreendendo que estamos todos no mesmo barco como uma única humanidade — acho que este Túnel do Estreito de Bering é um passo muito importante nessa direção".

A proposta volta à agenda internacional em um momento em que a guerra na Ucrânia se prolonga e os esforços para resolvê-la enfrentam forte resistência, especialmente por parte de Londres e outras capitais europeias. O contexto de tensões geopolíticas reforça o argumento dos defensores do projeto de que grandes obras de infraestrutura podem servir como instrumentos de aproximação diplomática.

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