Trump quer restringir permanência de estudantes e jornalistas estrangeiros nos EUA
Medida do governo pode limitar a competitividade acadêmica e o fluxo de profissionais da imprensa internacional
247 - O governo dos Estados Unidos anunciou na quinta-feira (28) uma proposta que endurece as regras de permanência de estudantes internacionais e jornalistas estrangeiros no país. Segundo a Deutsche Welle Brasil, a iniciativa faz parte de mais uma ofensiva do presidente Donald Trump contra a imigração.
De acordo com o anúncio oficial, a nova norma fixa prazos máximos para diferentes tipos de vistos. Os estudantes com vistos F terão limite de quatro anos de estadia, enquanto jornalistas que recebem vistos I poderão permanecer apenas 240 dias — com possibilidade de prorrogação por igual período. A exceção ficará para os profissionais chineses, cujo prazo inicial será de apenas 90 dias. Atualmente, esses vistos costumam ter validade atrelada à duração do curso ou da missão jornalística, sem um limite rígido, embora nenhum ultrapasse dez anos.
Impacto sobre estudantes e universidades
Dados do governo americano mostram que em 2023 havia cerca de 1,6 milhão de estudantes internacionais com visto F. No ano fiscal de 2024, iniciado em outubro de 2023, foram concedidos aproximadamente 355 mil vistos de intercâmbio e 13 mil destinados a jornalistas estrangeiros.
O Departamento de Segurança Interna argumentou que muitos estudantes estendiam seus cursos indefinidamente, transformando-se em "eternos estudantes". Em nota oficial, o órgão afirmou: “Por muito tempo, governos anteriores permitiram que estudantes estrangeiros e outros portadores de visto permanecessem nos EUA virtualmente por tempo indeterminado, representando riscos à segurança, custando quantias incalculáveis de dinheiro aos contribuintes e prejudicando os cidadãos americanos".
Por outro lado, especialistas contestam a justificativa. Segundo o Departamento de Comércio, os estudantes estrangeiros injetaram mais de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 270 bilhões) na economia americana em 2023, tornando-se uma das principais fontes de receita para universidades, já que a maioria paga mensalidades integrais.
Reações do setor acadêmico
Entidades ligadas ao ensino superior reagiram negativamente. Miriam Feldblum, presidente da Aliança de Presidentes para o Ensino Superior e Imigração, declarou: “Esta proposta envia uma mensagem a indivíduos talentosos de todo o mundo de que suas contribuições não são valorizadas nos Estados Unidos. Isso não é apenas prejudicial aos estudantes internacionais, mas também enfraquece a capacidade das faculdades e universidades americanas de atrair os melhores talentos, diminuindo nossa competitividade global".
As universidades, que já vinham relatando queda nas matrículas de estrangeiros devido a restrições anteriores, temem perder ainda mais alunos e pesquisadores.
Conflito político e contradições no governo Trump
O anúncio chega em meio ao início do novo ano letivo, reforçando a pressão do governo sobre as instituições de ensino. Apesar disso, Trump surpreendeu ao sugerir que gostaria de dobrar o número de estudantes chineses nos EUA para 600 mil, citando relações “calorosas” com o presidente da China, Xi Jinping — um movimento visto como contraditório diante das medidas restritivas.
O Departamento de Estado informou que cerca de 6 mil vistos de estudantes já foram revogados desde o início do segundo mandato de Trump, em parte devido às pressões do secretário de Estado, Marco Rubio, que defendia a revogação “agressiva” de permissões para alunos chineses.
Paralelamente, o governo suspendeu bilhões de dólares em verbas para pesquisas acadêmicas, sob a alegação de que as universidades não teriam atuado com firmeza contra o antissemitismo, além de apoiar o aumento de impostos sobre doações feitas a instituições privadas.
Essas ações reforçam a hostilidade do presidente dos Estados Unidos em relação às universidades, uma postura que já vinha sendo defendida pelo vice-presidente JD Vance, que chegou a classificar as instituições de ensino superior como “o inimigo”.