Trump indica possível encontro com Putin e Zelensky para discutir cessar-fogo na guerra da Ucrânia

247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (6) que existe uma “boa chance” de que ele se reúna em breve com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, com o objetivo de negociar um cessar-fogo e avançar em um possível acordo de paz. A declaração foi dada durante conversa com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, segundo reportagem do New York Times.

“Esse caminho foi longo e continua sendo longo, mas há uma boa chance de que haja uma reunião muito em breve”, disse Trump, evitando caracterizar o avanço como um “avanço decisivo”, mas reconhecendo que as mortes causadas pela guerra “estão pesando sobre os dois lados”. Ainda segundo o presidente dos EUA, “é uma situação terrível, queremos pôr um fim a isso”.

A iniciativa do encontro trilateral veio após Trump discutir a possibilidade com aliados em uma ligação telefônica mais cedo, que também contou com a participação de Zelenskiy. Pessoas com conhecimento direto da conversa disseram ao jornal que Trump demonstrou otimismo quanto a um cessar-fogo e sugeriu que Putin estaria disposto a negociar a paz mediante discussão sobre trocas de territórios.

Territórios em disputa e entraves diplomáticos

Putin reivindica formalmente as regiões ucranianas de Crimeia, Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — ainda que as forças russas não controlem integralmente todos esses territórios. Propostas anteriores dos EUA incluíram o reconhecimento da Crimeia, anexada ilegalmente pela Rússia em 2014, como parte do território russo, e a devolução de áreas específicas de Zaporizhzhia e Kherson ao controle de Kiev.

O secretário de Estado Marco Rubio afirmou que o sucesso da reunião dependerá do progresso rumo a um cessar-fogo temporário que permita iniciar negociações para encerrar o conflito. “Acho que agora temos uma compreensão melhor das condições sob as quais a Rússia estaria disposta a acabar com a guerra”, disse Rubio em entrevista à Fox Business, acrescentando que ainda existem “muitos obstáculos” e que o encontro de cúpula pode não ocorrer antes da próxima semana.

Especialistas alertam que mesmo que o encontro aconteça, alcançar um cessar-fogo duradouro será complexo. Para o cientista político Samuel Charap, da RAND Corporation, “a perspectiva de uma cúpula entre líderes em tão curto prazo pode gerar expectativas irreais neste estágio”.

Local indefinido e pressões econômicas contra Moscou

A sede do possível encontro ainda não foi definida, mas o Oriente Médio está entre os locais mais cotados. Durante visita recente de Trump à região do Golfo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chegou a oferecer seu país como anfitrião da cúpula. Trump e Putin se encontraram pessoalmente pela última vez em 2018, em Helsinque, na Finlândia.

Horas antes de mencionar a possível cúpula, Putin recebeu em Moscou o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, para três horas de conversas. O Kremlin, no entanto, limitou-se a dizer que houve uma troca de “sinais” entre os dois líderes, sem revelar mais detalhes.

Paralelamente ao esforço diplomático, Trump anunciou novas medidas econômicas contra países que compram energia da Rússia, intensificando a pressão sobre Moscou. O presidente duplicou as tarifas sobre produtos indianos, elevando-as para 50%, com início de aplicação previsto para três semanas. “Não sei se isso teve algo a ver com as conversas de hoje, mas tivemos um diálogo muito produtivo”, afirmou.

Washington também avalia novas sanções contra a frota clandestina de petroleiros russos e as entidades que permitem sua operação — embarcações essas que são essenciais para que Moscou continue exportando petróleo, mesmo sob sanções dos EUA e da União Europeia. “A frota fantasma de petroleiros é a espinha dorsal da evasão de sanções da Rússia e do financiamento da guerra”, denunciou o chefe de gabinete de Zelenskiy, Andriy Yermak, na rede X (ex-Twitter).

Segundo o Financial Times, as sanções adicionais em estudo incluem restrições a empresas petrolíferas russas e reforço nos mecanismos de fiscalização para o cumprimento das sanções já existentes.

Reação do mercado e cenário indefinido

Diante das incertezas sobre o rumo das sanções, o preço do petróleo caiu pelo quinto dia consecutivo. O barril do West Texas Intermediate recuou 1,2% e fechou pouco acima de US$ 64, no que se tornou a maior sequência de perdas diárias desde setembro. A expectativa de que Trump possa adotar uma postura mais flexível em relação à Rússia, com a sinalização de um encontro presencial com Putin já na próxima semana, intensificou a tendência de baixa nos mercados.

Apesar da movimentação da Casa Branca, especialistas e interlocutores diretos da diplomacia norte-americana indicam que ainda há um caminho árduo a ser percorrido até um acordo de paz. A possibilidade de trocas territoriais continua sendo o ponto mais sensível da negociação, com posições divergentes entre Moscou, Kiev e seus respectivos aliados.