Trump flexibiliza discurso com China para viabilizar cúpula com Xi Jinping

247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou uma postura mais conciliadora em relação à China com o objetivo de facilitar um encontro com o presidente Xi Jinping e avançar na negociação de um acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo. A informação foi publicada pela Bloomberg nesta quarta-feira (16), com base em fontes com conhecimento direto das tratativas.

A mudança de tom acontece após a reunião entre o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, realizada na Malásia na semana passada. Rubio classificou o encontro como “positivo” e destacou o interesse mútuo por uma cúpula de alto nível. O governo chinês também avaliou o diálogo como “pragmático e construtivo”.

Segundo a Bloomberg, Trump tem dado prioridade à assinatura de acordos comerciais pontuais com Pequim — especialmente os que envolvem compras bilaterais — em detrimento da discussão mais ampla sobre os desequilíbrios estruturais na balança comercial. Essa abordagem representa um afastamento da estratégia anterior, marcada pela imposição de tarifas agressivas para pressionar a redução do déficit comercial dos EUA com a China.

Em abril, Trump impôs tarifas generalizadas a mais de 90 países, incluindo a China, desencadeando uma retaliação imediata por parte de Pequim. O embate tarifário atingiu níveis recordes, com sobretaxas chegando a 145% por parte dos EUA e 125% por parte da China. Um cessar-fogo temporário foi alcançado em maio, após rodadas de negociação realizadas em Genebra.

Na terça-feira (15), Trump afirmou que os Estados Unidos estão enfrentando a China “de maneira muito amigável”, sinalizando preferência pelo diálogo em vez do confronto. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, também sugeriu que o governo norte-americano poderá adiar a retomada da tarifa de 145% prevista para 12 de agosto. De acordo com uma fonte ouvida pela Bloomberg, o congelamento pode ser estendido por até três meses.

Ainda segundo a agência, a nova orientação de Trump tem gerado tensões internas na Casa Branca, dividindo conselheiros entre os que defendem uma postura mais dura e os que enxergam vantagens em concessões estratégicas.

Uma das concessões recentes foi a permissão para que a fabricante de chips Nvidia retomasse as vendas do modelo H20 — uma versão rebaixada de seus chips de inteligência artificial — ao mercado chinês. A liberação contradiz promessas anteriores do governo de restringir o acesso da China a tecnologias sensíveis.

O relaxamento nas exportações de semicondutores tem provocado críticas entre autoridades. Parte dos conselheiros considera que a medida pode fortalecer o setor tecnológico chinês. No entanto, figuras como o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o assessor de tecnologia da Casa Branca, David Sacks, defendem a venda controlada como uma forma de manter a influência tecnológica dos EUA. “Você quer vender o suficiente para que os desenvolvedores chineses fiquem viciados na pilha de tecnologia americana”, afirmou Lutnick à CNBC.