TV 247 logo
      HOME > Mundo

      Trump desmantela braço científico de agência ambiental dos EUA e inicia demissão em massa de pesquisadores

      Decisão elimina setor responsável por pesquisas cruciais sobre saúde e meio ambiente; medida é criticada por cientistas e sindicato

      O logotipo da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e a bandeira dos EUA são vistos nesta ilustração tirada em 23 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Dado Ruvic)
      Luis Mauro Filho avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu início ao desmonte do setor científico da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), com a confirmação de que o escritório de pesquisa e desenvolvimento será encerrado e centenas de cientistas serão desligados. A decisão, anunciada nesta sexta-feira (18), atinge químicos, biólogos, toxicologistas e especialistas que atuavam na base científica das regulamentações ambientais americanas.

      A medida aprofunda a política de enxugamento do funcionalismo federal promovida pelo governo Trump em seu segundo mandato. A Suprema Corte dos EUA havia autorizado recentemente que esse tipo de reestruturação prosseguisse, mesmo com ações judiciais ainda em tramitação.

      A eliminação do escritório científico da EPA vinha sendo especulada desde março, quando um documento interno revelando a proposta foi publicado pelo The New York Times. Até então, a administração negava qualquer decisão definitiva sobre o destino do setor.

      O escritório afetado é responsável por estudos que embasaram normas de controle ambiental, incluindo pesquisas sobre os impactos do fraturamento hidráulico na água potável, os riscos de compostos químicos perigosos e os efeitos da fumaça de incêndios florestais na saúde pública. Muitas dessas análises fundamentaram regras mais rigorosas, o que frequentemente gerava resistência da indústria química e de outros setores produtivos.

      O atual administrador da EPA, Lee Zeldin, ex-deputado republicano aliado de Trump, celebrou a revogação de dezenas de normas ambientais. Segundo ele, o objetivo é “facilitar e baratear a atuação das indústrias”. Desde janeiro, mais de 325 profissionais já haviam deixado o escritório após aderirem a programas de “demissão voluntária”, segundo informou a porta-voz da agência, Molly Vaseliou.

      "O coração e o cérebro da EPA"

      A decisão provocou forte reação de sindicatos e especialistas. Justin Chen, presidente do Conselho 238 da Federação Americana de Empregados do Governo — que representa mais de 8 mil trabalhadores da EPA — classificou o fechamento do setor científico como uma ameaça à saúde pública dos EUA. “O escritório científico é o coração e o cérebro da EPA. Sem ele, não temos os meios para avaliar impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Sua destruição devastará a saúde pública em nosso país.”

      Nas últimas semanas, houve uma debandada de chefes de programas nacionais da agência, incluindo profissionais com décadas de experiência que lideravam iniciativas sobre contaminantes atmosféricos, emergências ambientais e produtos tóxicos. Jennifer Orme-Zavaleta, ex-diretora do escritório de pesquisa durante o primeiro governo Trump e funcionária da EPA por 40 anos, foi direta: “Estão desmantelando uma organização de classe mundial, e o povo americano não será bem servido por isso. Essas ações são míopes, insensíveis e cruéis.”

      A força de trabalho total da EPA caiu de 16,1 mil servidores no início do primeiro mandato de Trump para 12,4 mil em julho deste ano, com mais de 3,7 mil desligamentos. O número atual de funcionários remanescentes no setor científico é de aproximadamente 830, mas ainda não está claro quantos deles serão demitidos.

      Corte orçamentário e disputa ideológica

      Em nota, a EPA afirmou que as “melhorias organizacionais” e o corte de pessoal já renderam uma economia de US$ 748,8 milhões (cerca de R$ 4,17 bilhões). Segundo Zeldin, trata-se de uma iniciativa para garantir uma gestão mais eficiente do dinheiro dos contribuintes.

      Grupos conservadores como a Heritage Foundation e o Competitive Enterprise Institute vinham pressionando há anos pelo fim do escritório de pesquisa da EPA. No chamado “Projeto 2025”, a Heritage classificou o setor como “inchado, sem prestação de contas e inclinado a perseguir objetivos políticos”. Já o ex-pesquisador James Broughel, hoje vinculado ao think tank America First Policy Institute, defendeu que o programa de avaliação de riscos químicos (IRIS) da agência é excessivamente cauteloso e ignora contextos de exposição real.

      Uma reunião geral com os cientistas afetados foi marcada para segunda-feira à tarde. No comunicado interno obtido pelo New York Times, a chefe interina do setor, Maureen Gwinn, reconheceu a “incerteza e preocupação” entre os profissionais e recomendou: “Por favor, lembrem-se de cuidar de vocês mesmos”.

      (Com informações da Folha de S. Paulo)

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...