Trump contradiz chefe de inteligência dos EUA sobre ameaça nuclear do Irã
Presidente diz que Tulsi Gabbard, ex-congressista e atual diretora de Inteligência Nacional, “está errada” ao minimizar risco de arma atômica iraniana
247 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (20) que sua diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, está equivocada ao afirmar que o Irã não está construindo uma arma nuclear. A declaração foi feita durante conversa com jornalistas em Morristown, Nova Jersey, e contradiz diretamente avaliações anteriores da própria comunidade de inteligência americana. A informação é da agência Reuters, em reportagem assinada por Trevor Hunnicutt.
“Ela está errada”, declarou Trump, ao ser questionado sobre os comentários feitos por Gabbard em março deste ano, quando a ex-congressista afirmou diante do Congresso que "o [serviço de inteligência] continua a avaliar que o Irã não está construindo uma arma nuclear".
Na época, Gabbard ressaltou que o estoque de urânio enriquecido do Irã era "sem precedentes" para um país sem arsenal atômico, mas que ainda não havia evidências de um programa ativo de armamento. No entanto, nesta sexta-feira, ela usou sua conta na rede social X (antigo Twitter) para afirmar que os EUA têm informações de que "o Irã está no ponto em que pode produzir uma arma nuclear em semanas ou meses, se decidir finalizar a montagem". Segundo Gabbard, o depoimento anterior foi "tirado de contexto" pela mídia, que estaria tentando “fabricar divisão” no governo.
As declarações surgem em um momento de crescente tensão internacional. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, justificou recentes ataques a instalações iranianas alegando que Teerã está "à beira de possuir uma ogiva nuclear". Trump, por sua vez, indicou que deve decidir nas próximas semanas se os EUA terão algum tipo de envolvimento direto no conflito entre Irã e Israel.
Apesar das falas mais duras de Trump e Gabbard, uma fonte ligada à inteligência americana disse à Reuters que a avaliação oficial dos serviços de espionagem dos EUA não mudou desde março: levaria até três anos para o Irã desenvolver uma ogiva nuclear operacional.
O especialista David Albright, ex-inspetor da ONU e presidente do Instituto para Ciência e Segurança Internacional, também questionou a mudança de tom de Gabbard. Ele estimou que, mesmo com os avanços atuais, o Irã precisaria de pelo menos seis meses para montar um dispositivo nuclear rudimentar — ainda incapaz de ser transportado por míssil. Para fabricar uma arma viável e lançável, o prazo mínimo seria de um a dois anos, segundo ele.
Trump tem um histórico de desconfiança em relação aos serviços de inteligência dos EUA. Durante seu primeiro mandato, frequentemente rejeitou avaliações técnicas que contrariavam suas posições políticas, como no caso da interferência russa nas eleições de 2016, quando preferiu acreditar nas negativas do presidente Vladimir Putin.
Aliada fiel de Trump, Tulsi Gabbard já havia se mostrado crítica à chamada "deep state" — termo usado por apoiadores do presidente para descrever uma suposta rede de burocratas e autoridades que atuariam contra seus interesses. A recente discordância entre os dois, no entanto, mostra que nem mesmo os mais leais estão imunes ao estilo combativo de Trump.
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