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Lula reage ao tarifaço de Trump e prepara retaliação contra importados dos EUA

Presidente quer negociar com empresários, mas estuda aplicar a Lei da Reciprocidade e taxar medicamentos, cultura e produtos agrícolas dos EUA

Contêineres em porto no Rio de Janeiro - 10/07/2025 (Foto: Reuters)
Guilherme Levorato avatar
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247 - O governo brasileiro iniciou uma ofensiva diplomática e comercial para responder à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou a medida como “um desaforo muito grande” e afirmou que, caso não haja recuo, o Brasil retaliará com base na Lei da Reciprocidade, relata o jornal O Globo.

“O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário”, afirmou Lula. “Vamos tentar junto com a OMC e com outros países uma solução. Se não houver, a partir de 1º de agosto, vamos aplicar a reciprocidade".

O presidente anunciou que criará um comitê com empresários brasileiros, especialmente os que exportam para os EUA, como os dos setores de suco de laranja, aço e aviação (caso da Embraer), para definir a resposta mais eficaz ao tarifaço. Ele também declarou que espera que esses setores estejam ao lado do governo nessa disputa.

“Se existir um empresário que ache que o governo brasileiro tenha que ceder e fazer tudo o que o presidente de outro país quer, sinceramente esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro”, disparou Lula. “Essa é a hora do Brasil mostrar que quer ser respeitado no mundo".

Alternativas em estudo: medicamentos, cultura e importados - Diante do esvaziamento da Organização Mundial do Comércio, fontes do governo confirmam que a aplicação da Lei da Reciprocidade já está sendo preparada. O instrumento jurídico permite ao Brasil retaliar com sanções equivalentes às impostas por outros países.

Entre as medidas em análise estão o aumento das tarifas de importação sobre produtos dos EUA, a cassação de patentes de medicamentos — o que preocupa o setor farmacêutico —, e a elevação de tributos sobre bens culturais, como filmes, livros e produtos com direito autoral. O Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) já manifestou apreensão diante da possibilidade de quebra de patentes.

Exportadores brasileiros enfrentam incertezas - A taxação provocou reações imediatas no setor privado, informa o jornal O Globo. Empresas brasileiras com operações nos Estados Unidos ou que exportam diretamente para o país relatam insegurança quanto aos embarques futuros.

No setor calçadista, por exemplo, a Usaflex, que exporta para os EUA, afirma que as negociações com empresas americanas para envio de 1,2 milhão de pares estão comprometidas.

“Agora isso fica em dúvida”, disse o CEO Sérgio Bocayuva. “Diferentemente da China, onde se ajustam os custos, o Brasil não tem essa flexibilidade. Os EUA estão acessando cada vez mais o Brasil após as taxações sobre a China".

Na indústria de equipamentos agrícolas, a Jacto, que possui uma planta na Virgínia, já considera antecipar embarques e buscar novos mercados, como China e África.

“O que já está pronto estamos discutindo com os distribuidores”, afirmou o CEO Carlos Daniel Haushahn.

Importadores também preveem prejuízos - A taxação pode afetar também as empresas que compram insumos dos EUA. É o caso da CCM, fabricante mineira de fraldas, que aguarda a chegada de 3 mil toneladas de polpa de celulose.

“Se o Brasil adotar a reciprocidade, simplesmente não teremos como comprar”, disse o CEO Rodrigo Zerbini. “Esse cenário aumenta custos, gera instabilidade e tira o ímpeto de avançar".

Agro e construção civil alertam para efeitos econômicos - O pecuarista Sidney Zamora, do grupo agropecuário Zamora, antevê prejuízos com a exportação de carne bovina:

“Quando você coloca uma tarifa de 50% sobre qualquer produto, a tendência natural é o volume cair. Fica mais caro para quem compra, menos competitivo para quem vende. Então vejo a possibilidade real de redução nas exportações brasileiras para os EUA, principalmente em produtos onde há concorrência forte, como a carne bovina".

A estratégia da empresa será buscar novos compradores no Oriente Médio, na Ásia e reforçar a relação com a China.

Na construção civil, Milton Bigucci Junior, diretor da MBigucci, alerta para os efeitos indiretos da medida:

“Nunca é boa essa perspectiva de aumento, pois esse tarifaço vira uma guerra comercial entre países. E nunca sabemos onde isso vai chegar, além de influenciar a economia e a inflação, com queda da Bolsa e alta do dólar. É algo que precisa ser contornado diplomaticamente".

Riscos diplomáticos e impacto estimado - Segundo estimativas do BTG Pactual, as tarifas de Trump podem provocar queda de até US$ 20 bilhões nas exportações brasileiras até o final de 2026. Lula, por sua vez, destacou que os EUA têm saldo positivo na balança comercial com o Brasil, que acumulou déficit de US$ 410 bilhões nos últimos 15 anos.

Apesar da tensão, o presidente não descartou buscar um contato direto com Trump, caso necessário. Desde a posse do republicano para o segundo mandato, em janeiro, o diálogo entre os governos tem ocorrido apenas em escalões inferiores.

Fontes do governo afirmam que, se confirmada, a tarifa de Trump representará um caso inédito de sanção punitiva contra o Brasil.

“O objetivo é impor uma visão de mundo e impedir expressões de independência”, disse uma fonte.

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