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      Trump aposta em redesenho eleitoral para garantir supremacia republicana na Câmara dos EUA

      Estratégia do presidente mira redistritamento em estados-chave, enquanto democratas ameaçam reação com mapas eleitorais próprios

      O presidente dos EUA, Donald Trump - 07/08/2025 (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)
      Otávio Rosso avatar
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      247 -O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou sua pressão para que estados sob liderança republicana redesenhem os distritos da Câmara dos Representantes, em uma ofensiva que pode consolidar o domínio do partido por décadas. A informação foi divulgada neste domingo (24) pela agência Reuters, que ouviu especialistas e analistas políticos sobre os impactos da medida.

      Atualmente, os republicanos mantêm uma estreita maioria na Câmara, com 219 assentos contra 212 dos democratas. Segundo a Reuters, Trump pretende reverter a tendência histórica de presidentes em exercício perderem cadeiras nas eleições de meio de mandato. A estratégia tem início no Texas, que aprovou na semana passada um novo mapa eleitoral projetado para acrescentar cinco assentos ao partido.

      Ameaça de escalada no “gerrymandering”

      Os democratas reagiram ao movimento e, liderados pela Califórnia, sinalizaram que podem redesenhar distritos a seu favor. Essa prática, conhecida como gerrymandering, não é nova nos Estados Unidos, mas ganhou potência nos últimos anos com o uso de sofisticadas ferramentas de análise de dados.

      A vantagem, porém, está com os republicanos, que controlam 23 legislaturas estaduais e suas respectivas governadorias, contra apenas 15 dos democratas. Além disso, projeções apontam que mudanças populacionais podem gerar até 11 novos assentos em estados do Sul e do Oeste, regiões majoritariamente republicanas, após o Censo de 2030.

      Críticas e temores sobre a democracia

      A intensificação da disputa levantou preocupações sobre o futuro da democracia norte-americana. O ex-deputado republicano Adam Kinzinger, crítico de Trump, afirmou: "Sinto que isso é uma forma de trapacear. Toda vez que quebramos uma norma política, ela nunca volta. Será uma avalanche de redistritamentos constantes. Isso me preocupa."

      Uma pesquisa recente da Reuters/Ipsos mostrou que a maioria dos norte-americanos rejeita o gerrymandering partidário, considerando que ele ameaça a representatividade e o equilíbrio democrático.

      Thomas Kahn, diretor interino do Centro de Estudos do Congresso e da Presidência da American University, reforçou a preocupação: "Se os republicanos construírem vantagens institucionais, seja por meio de arrecadação ou pelo gerrymandering, estarão criando um bloqueio na Câmara. E não acredito que isso seja saudável para a democracia."

      Disputa se concentra nas primárias

      Atualmente, apenas 36 dos 435 distritos da Câmara são considerados realmente competitivos para as eleições de 2026. Isso significa que as disputas mais relevantes tendem a ocorrer nas primárias partidárias, onde candidatos mais radicais costumam se destacar, reduzindo ainda mais o espaço para consenso político.

      Enquanto democratas perdem população em estados como Nova York e Califórnia, republicanos comemoram a migração de eleitores para regiões como Flórida, Texas e Idaho. O porta-voz do Comitê Republicano de Campanha para a Câmara, Will Kiley, avaliou: "Muitos eleitores que deixam a Califórnia querem viver em estados conservadores, por diversos motivos: custo de vida, regulamentações, ambiente de negócios, e como esses estados são administrados."

      Impacto nas minorias e novos mapas

      Dados do Censo mostram que o crescimento populacional em estados-chave, como Texas e Flórida, ocorre quase exclusivamente em comunidades hispânicas, negras e asiáticas. Para Kareem Crayton, do Brennan Center for Justice, esse cenário levanta dúvidas: "O que sabemos é que o crescimento se dá quase totalmente em comunidades de cor. E são justamente essas comunidades que essas mudanças tentam restringir."

      Embora Trump tenha ampliado seu desempenho entre hispânicos em 2024, ainda perdeu o grupo para a então candidata democrata Kamala Harris. O novo mapa do Texas, incentivado pela Casa Branca, busca conquistar o eleitorado latino, mas democratas acusam os republicanos de enfraquecer a representatividade de hispânicos em distritos de maioria latina.

      Ambiente político cada vez mais polarizado

      A escalada do gerrymandering ocorre em meio a um Congresso já marcado por divisões. Moderados têm deixado o cenário político, pressionados pelo aumento da influência de alas mais radicais. O ex-deputado John Duarte resumiu o sentimento de frustração: "Temos grandes problemas a resolver. Mas não estamos resolvendo."

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