Sob risco de queda, François Bayrou levará governo francês a voto de confiança em setembro
Premiê enfrenta Parlamento dividido e forte rejeição ao plano de austeridade de € 44 bilhões
247 - O primeiro-ministro da França, François Bayrou, anunciou nesta segunda-feira (25) que colocará seu governo à prova em um voto de confiança na Assembleia Nacional, marcado para 8 de setembro. A decisão, noticiada pela Folha de S.Paulo, ocorre em meio à dura disputa em torno do Orçamento de 2026, que prevê cortes profundos e ajustes de cerca de € 44 bilhões (aproximadamente R$ 285 bilhões).
O pacote orçamentário proposto por Bayrou foi duramente criticado tanto por partidos de esquerda quanto pela extrema-direita. O plano inclui o congelamento de gastos sociais, a eliminação de dois feriados nacionais – a segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, data da vitória na Segunda Guerra Mundial –, além de redução de investimentos em saúde e a eliminação de milhares de postos no setor público. O premiê defendeu a medida como necessária diante do risco de “superendividamento”, afirmando: “Sim, é arriscado [submeter-se a um voto de confiança], mas é ainda mais arriscado não fazer nada”.
Oposição unida contra Bayrou
A manobra de Bayrou deve enfrentar forte resistência no Parlamento. Jordan Bardella, líder do partido de ultradireita Reunião Nacional e aliado político de Marine Le Pen, foi categórico: “François Bayrou acaba de anunciar o fim de seu governo”, escreveu em uma publicação no X. O dirigente também declarou que sua sigla jamais apoiará “um governo cujas escolhas causam sofrimento ao povo”.
Na esquerda, o movimento La France Insoumise já avisou que não dará suporte ao projeto. A votação ocorrerá apenas dois dias antes de manifestações organizadas por sindicatos e legendas progressistas contra a política de austeridade.
Dívidas, déficit e pressão social
A França vive um quadro fiscal preocupante: o déficit público projetado para 2025 chega a 5,4% do PIB, enquanto a dívida nacional já alcança 114% da economia. O governo prometeu que, até 2029, atingirá a meta de 3% de déficit exigida pela União Europeia. Para isso, além do corte de € 5 bilhões nos gastos com saúde, Bayrou propõe congelar aposentadorias e a tabela do imposto de renda, além de criar uma “contribuição dos mais afortunados”, sem, no entanto, adotar explicitamente um imposto sobre fortunas.
As dificuldades para aprovar o orçamento lembram o colapso recente do gabinete anterior, comandado por Michel Barnier, que caiu em dezembro passado após apenas três meses de gestão. Bayrou, que lidera uma coalizão de centro-direita sem maioria no Parlamento, já sobreviveu a oito moções de censura desde a dissolução da Assembleia pelo presidente Emmanuel Macron, em junho de 2024.