Sergey Lavrov: 'situação em Gaza atingiu um nível catastrófico'
"A situação é terrível”, afirmou o chanceler russo, que também comentou sobre o plano de Trump
247 - O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse nesta quarta-feira (8/) que o genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza atingiu um nível “catastrófico”. “Crianças morrendo de exaustão e fome”, alertou em entrevista ao projeto Pontes para o Leste, acrescentando que o território palestino vive um “genocídio silencioso”.
“O número total de mortos, apenas segundo dados oficiais, é de 65 mil em dois anos. A esmagadora maioria são civis: mulheres, crianças e idosos. Centenas de milhares foram deslocados. A situação é terrível”, afirmou Lavrov.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 64 mil crianças morreram ou ficaram feridas por causa do conflito na Faixa de Gaza desde outubro de 2023, quando começou o genocídio.
As manifestações contra Israel também ganharam intensidade nos últimos dias após as barreiras impostas à entrada de ajuda humanitária destinada à Faixa de Gaza. Tropas israelenses interceptaram navios que levavam suprimentos de alimentos e medicamentos para a população local.
Na segunda-feira (6), o governo israelense expulsou a ativista sueca Greta Thunberg e outros 170 militantes que estavam detidos. Durante as ações contra as embarcações de apoio, mais de 400 pessoas chegaram a ser dadas como desaparecidas.
Plano de Paz
Na entrevista, o ministro russo elogiou o chamado “plano de paz em Gaza” proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como uma “alternativa realista” diante da crise.
“O plano menciona a palavra ‘estado’. É vago, trata apenas da Faixa de Gaza, sem incluir a Cisjordânia. Mas é o melhor que há sobre a mesa neste momento. Pode ser aceitável para os árabes e, ao menos, não rejeitado por Israel”, avaliou.
O acordo válido para a Faixa de Gaza prevê a libertação dos reféns que estão sob controle do grupo desde 7 de outubro de 2023, quando começou o genocídio. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou publicamente a proposta e confirmou que ela segue em negociação.
Pelos termos definidos, o Hamas teria anistia caso aceite entregar seu arsenal. Mesmo assim, a organização não poderá integrar a futura administração do território. A gestão de Gaza, nesse período de transição, ficaria sob responsabilidade de um comitê temporário, formado por palestinos de perfil técnico e sem vínculos políticos, com o objetivo de garantir o funcionamento dos serviços básicos.
Esse comitê ainda contaria com especialistas estrangeiros e trabalharia sob a supervisão de uma instância chamada “Conselho da Paz”, que seria liderada diretamente por Trump.
Feridos e o colapso em hospitais
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou no último dia 2 um panorama dramático sobre os impactos da guerra em Gaza. Desde outubro de 2023, aproximadamente 167 mil pessoas foram feridas, e quase 42 mil delas ficaram com sequelas irreversíveis. Entre os casos registrados, uma em cada quatro vítimas é criança.
Segundo o levantamento, cerca de 25% das lesões resultaram em danos permanentes. Mais de 5 mil palestinos passaram por amputações, enquanto dezenas de milhares enfrentam outras consequências graves: foram contabilizados mais de 22 mil ferimentos nos membros superiores e inferiores, aproximadamente 2 mil na medula espinhal, 1,3 mil no cérebro e mais de 3,3 mil queimaduras extensas.
A OMS ressalta que a situação pressiona ainda mais a necessidade de serviços cirúrgicos especializados e centros de reabilitação. O relatório chama atenção para a incidência elevada de traumas faciais e oculares entre os pacientes que aguardam evacuação médica, lesões que frequentemente resultam em desfiguração, incapacidade física e estigmatização social.
O sistema de saúde de Gaza, alerta a agência da ONU, encontra-se “à beira do colapso”. Apenas 14 dos 36 hospitais ainda conseguem operar, e mesmo assim de maneira parcial. As unidades de reabilitação também estão gravemente comprometidas: menos de um terço segue funcionando e nenhuma delas em plena capacidade, apesar dos esforços das equipes médicas e de organizações parceiras.
A guerra destruiu grande parte da força de trabalho da área de reabilitação. Antes do conflito, havia cerca de 1,3 mil fisioterapeutas e 400 terapeutas ocupacionais no território. Hoje, muitos foram deslocados e pelo menos 42 profissionais morreram até setembro de 2024.
O número reduzido de especialistas agrava o drama dos amputados. Gaza conta atualmente com apenas oito técnicos responsáveis pela produção e colocação de próteses, número incapaz de atender à demanda crescente.