Pela primeira vez em 17 anos, EUA se recusam a condenar a Rússia na ONU por causa do conflito na Geórgia
Decisão marca ruptura com posicionamento tradicional dos Estados Unidos e gera repercussões diplomáticas
247 - Os Estados Unidos se recusaram a apoiar uma declaração no Conselho de Segurança da ONU que condenava a Rússia por suas ações durante a guerra de agosto de 2008 contra a Geórgia. A informação foi publicada pelo jornal russo Kommersant e repercutida pela agência noticiosa TASS. Esta é a primeira vez em 17 anos que Washington não se junta ao bloco de países ocidentais nesta matéria.
A declaração conjunta foi assinada por Reino Unido, França, Eslovênia, Dinamarca e Grécia. O documento traça um paralelo entre a presença militar russa nas regiões da Abkházia e da Ossétia do Sul e a atual ofensiva de Moscou na Ucrânia, reiterando apoio à “soberania e integridade territorial da Geórgia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”.
A posição russa e as críticas aos aliados ocidentais
Em resposta, Dmitry Polyansky, representante interino da Rússia na ONU, acusou os países signatários de instrumentalizar a questão georgiana para fins estratégicos. “Aqueles que se opõem a esse processo estão interessados em transformar a Geórgia em um peão apenas para seus próprios interesses geopolíticos”, afirmou o diplomata.
A postura de Washington contrasta com anos de alinhamento às potências europeias nesse tema e levanta questionamentos sobre mudanças no enfoque diplomático dos Estados Unidos em relação ao Cáucaso.
O conflito de 2008 e seus desdobramentos
O embate que serve de pano de fundo para essa disputa diplomática ocorreu em 8 de agosto de 2008, quando a Geórgia lançou uma ofensiva contra a Ossétia do Sul. Em resposta, a Rússia interveio militarmente, alegando proteger seus cidadãos — muitos deles já com cidadania russa — e as forças de paz estacionadas na região desde 1992.
A guerra durou cinco dias e resultou em mais de mil mortos, incluindo 72 militares russos. Pouco tempo depois, em 26 de agosto de 2008, Moscou reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, ambas ex-regiões autônomas da Geórgia.
A recusa dos Estados Unidos em assinar a declaração de condenação neste ano sinaliza um movimento inédito desde o fim da guerra e pode ter implicações nas relações entre Washington, Tbilisi e Moscou.