“Nunca vivi um momento tão perigoso”, diz Celso Amorim sobre risco de guerra mundial
O diplomata condenou o ataque dos EUA ao Irã e alertou para o risco caso os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio se “comuniquem”
247 - Em entrevista à CNN, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, alertou para um cenário global extremamente instável. Segundo ele, a possibilidade de uma nova guerra mundial não pode ser descartada caso os conflitos no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia venham a se “comunicar”. A declaração foi feita após o recente ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares no Irã, o que agravou ainda mais as tensões regionais.
“Estamos vivendo um momento perigoso pelas partes envolvidas e perigoso para o mundo, porque há duas guerras com potencial de se alastrarem. Se essas duas guerras se comunicarem, teremos praticamente uma guerra mundial. Não digo uma guerra total, mas uma guerra com grande irradiação negativa, com reflexos na economia, no preço do petróleo”, afirmou Amorim.
O diplomata também ressaltou a complexidade adicional trazida pelo fator religioso no Oriente Médio. “Agora, em todo o Oriente Médio, vemos manifestações nos países islâmicos. E quando essa conotação religiosa desperta, é difícil conter”, disse.
Com 63 anos de atuação na diplomacia, Celso Amorim classificou o atual contexto como o mais perigoso que já presenciou. “Tenho 83 anos, 63 deles ligados à diplomacia, e nunca vivi um momento tão perigoso. Mesmo na crise dos mísseis de Cuba, havia duas pessoas podendo se comunicar. A URSS tentou um lance atrevido, mas voltou atrás. Agora são muitos atores e muito incontroláveis.”
Sobre o ataque dos Estados Unidos ao Irã no sábado (21), Amorim foi enfático ao condenar a ação, alinhando-se à nota oficial do Itamaraty divulgada no domingo (22). Para ele, houve uma clara violação do direito internacional. “A nota do Itamaraty já diz o que precisa. Só posso acrescentar: estamos à beira do alastramento de dois conflitos perigosos, sendo que um deles é o mais perigoso.”
O assessor criticou ainda a justificativa de autodefesa preventiva, frequentemente utilizada por Israel. “Houve violação do direito internacional. A Carta da ONU não contempla essa história que Israel invoca de autodefesa preventiva. Isso não existe. É uma quebra total das normas internacionais — e isso está ocorrendo com frequência.”
Amorim também relembrou o esforço diplomático liderado pelo Brasil e pela Turquia há 15 anos, que tentou estabelecer um acordo com o Irã sobre seu programa nuclear. “Conseguimos, junto com a Turquia, que o Irã aceitasse todas as condições. Essa ajuda foi, posteriormente, reconhecida por altos funcionários dos EUA. Mas o processo não evoluiu. Então, o Irã aproveitou esse vácuo nas negociações para fazer enriquecimento de urânio.”
Segundo ele, nada justifica o recente bombardeio. “Essa ideia de que ele pode ter a bomba em seis meses eu ouvi isso em 2010 e isso não ocorreu. Nada justifica esse bombardeio.”
Amorim avalia que os Estados Unidos foram “induzidos pela situação” a atacar, mas não teriam planejado essa ação inicialmente. “Não sei se pode haver um espaço para negociação. Não sei exatamente os efeitos reais dos bombardeios americanos, não sei se realmente destruíram a capacidade do Irã. Sei duas coisas: o Irã não vai desistir de ter um programa nuclear pacífico. E, por outro lado, a única maneira é o que o Egito propõe: que os países do Oriente Médio estejam livres de armas nucleares.”
O assessor também comentou sobre possíveis repercussões na Cúpula dos Brics, marcada para os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. “Temos reunião dos Brics, esse tema pode ser tratado, mas não sei ainda bem a reação do Irã. Não sei se a Rússia vai dar assistência ao Irã. Sei que eles condenaram. Há muitas incógnitas ainda para saber o que fazer. Talvez os Brics, em conjunto, possam fazer algo, mas não sei se haverá acordo”, concluiu.
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