“Não temos armas, não temos abrigo, só nos resta rezar”: civis descrevem horror dos ataques no Oriente Médio
Moradores de Teerã e Jerusalém relatam pânico, destruição e incerteza em meio à escalada que pode levar a uma guerra regional sem precedentes
247 - Equipe de reportagem da RT ouviu moradores de Jerusalém e Teerã, que hoje vivem sob a sombra de uma guerra que já não poupa civis nem áreas residenciais.
A tensão entre Israel e Irã, que por anos foi marcada por ameaças indiretas e confrontos à distância, agora assume a forma de bombardeios sistemáticos, sirenes ensurdecedoras e uma nova rotina de medo. A jornalista russa Elizaveta Naumova recolheu relatos que ilustram a rapidez e a brutalidade com que o conflito ganhou as ruas — e as casas — das duas cidade
O dia em que tudo mudou
Leila, moradora de Jerusalém, conta que a guerra entrou em sua vida às 3h da manhã de uma sexta-feira.
“Primeiro ouvi uma sirene geral, depois um alerta assustador vindo direto do sistema de emergência do celular, algo que só aparece em desastres como terremotos”, relata. Sem informações oficiais, ela recorreu a transmissões externas: “Vi Teerã sendo bombardeada. A pergunta era: ‘Estamos sendo atacados também?’”
A incerteza transformou-se em espera por novos ataques — que vieram ainda naquela noite. “O sistema de alerta funciona, mas o medo é constante. Agora tudo me assusta: o vento, o forno, o despertador”, desabafa.
Em Teerã, Javad relembra as primeiras horas da ofensiva: “Israel atacou altos comandantes, oficiais, cientistas nucleares. Usaram drones lançados de dentro do Irã”, afirma. Apesar do impacto, ele observa uma mudança no comportamento coletivo: “Hoje, as pessoas nem correm. Filmam com o celular.”
Saeed, estudante iraniano, foi acordado por um telefonema. “Meu amigo me ligou da biblioteca: ‘Saeed, acorde. Israel atacou.’ Eu tinha sentido as janelas tremerem, mas achei que era um sonho.”
Entre a fé e o concreto: onde se esconder?
Leila descreve os diferentes tipos de abrigo disponíveis em Israel — todos com alguma limitação. “Os ‘mamad’ são cômodos blindados. Dizem que são 100% seguros, mas um foi atingido e todos dentro morreram. Os ‘miklad’ são subterrâneos, mas e se o prédio desabar?” A falta de estruturas adequadas é um drama ainda mais grave em Jerusalém, onde, segundo ela, “se estiver na rua ou num parque, não há para onde correr.”
Do outro lado, Saeed relata o improviso da população de Teerã. Embora existam abrigos herdados da guerra Irã-Iraque, muitos recorrem a garagens, mesquitas ou escadas. “As estações de metrô foram designadas como abrigos, mas especialistas alertam que não foram projetadas para isso”, observa.
Viver sob ataque
O cotidiano nos dois países tenta persistir sob o peso da destruição. Leila diz que muitos israelenses seguem com suas atividades. “No sábado, vi gente fazendo churrasco no parque enquanto os alertas tocavam. Alguns continuam andando na rua como se nada estivesse acontecendo.”
Em Teerã, o cenário é de esvaziamento. “O trânsito desapareceu. Todos que conheço foram embora da cidade”, relata Javad. “Só há filas nos postos de combustível.” Saeed acrescenta: “Hoje, acordamos com sirenes ou explosões. Ou migramos, ou resistimos. À noite, rezamos.”
Quando fugir não é opção
Leila diz não conhecer ninguém que tenha conseguido deixar Israel. “O aeroporto está fechado. E mesmo Jordânia e Egito não são seguros após os ataques recentes. Não há para onde fugir.”
Javad lembra que, tecnicamente, seria possível sair pelo Iraque ou Armênia, que não exigem visto, mas o medo prevalece. “Ninguém vai fugir para o Afeganistão. Lá, as pessoas fogem do Talibã, não o contrário.”
Saeed relata uma migração interna. “Após os ataques, milhares deixaram Teerã e foram para regiões mais seguras. Eu mesmo voltei para Gorgan, no mar Cáspio.”
O que vem depois?
Javad resume o sentimento de incerteza: “Não sou especialista militar, mas acho que os dois lados vão lutar até o fim. Hoje, parece que Jerusalém tem vantagem. Se o Irã sobreviver, tentará sair com dignidade.”
Leila se mostra descrente em qualquer desfecho próximo: “Falaram que a guerra duraria duas semanas. Agora a lei marcial vai até 30 de junho. Acho que vai muito além. Pode virar uma guerra de atrito. Ou pior, a Terceira Guerra Mundial.”
Apesar do caos, Saeed ainda guarda esperança: “Acredito que o Irã vencerá em uma semana. Ainda tenho sonhos: visitar a Praça Vermelha, ser tradutor em exposições, ver a Torre Milad de novo.”
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