Marcha da extrema-direita em Londres expõe força e tensões políticas
Ato liderado por Tommy Robinson reuniu milhares e contou com apoio em vídeo de Elon Musk, reacendendo debate sobre imigração e polarização
247 - O Reino Unido vive um momento de polarização crescente, refletido na marcha realizada em Londres no último sábado (13), que reuniu mais de 100 mil apoiadores da extrema-direita, segundo informações divulgadas pela Folha de S. Paulo. O protesto foi convocado pelo ativista anti-imigração Tommy Robinson e contou com a participação virtual de Elon Musk, que enviou mensagem em vídeo defendendo a dissolução imediata do Parlamento britânico.
Na gravação, o bilionário norte-americano, aliado do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi enfático ao pedir eleições antecipadas: “Eu realmente acho que deve haver uma troca de governo no Reino Unido. Nós não temos mais quatro anos, ou seja lá quando será a próxima eleição, é muito tempo. Algo precisa ser feito. Tem que haver uma dissolução do Parlamento e uma nova eleição”, afirmou.
Ato marcado por símbolos políticos
Batizada de Unite the Kingdom (“Unir o reino”), a marcha transformou o centro de Londres em palco de bandeiras britânicas, americanas e israelenses, além dos bonés vermelhos Make America Great Again, associados a Donald Trump. Os cartazes exigindo deportações e os cânticos contra o primeiro-ministro Keir Starmer deram o tom do protesto.
Para Robinson, a mobilização foi apresentada como uma defesa da liberdade de expressão. Em sua rede social, ele celebrou: “Centenas de milhares já lotam as ruas do centro de Londres enquanto nos unimos como um só por nossas liberdades”.
Confrontos e resposta policial
Apesar da exibição de força, o evento não foi isento de conflitos. A Polícia Metropolitana de Londres informou que 25 pessoas foram detidas e 26 agentes ficaram feridos, quatro em estado grave. Mais de 1.600 policiais foram mobilizados, em operação que precisou lidar também com um contraprotesto antirracista e com outros grandes eventos simultâneos na cidade.
A comandante Clair Haynes, responsável pela operação, declarou que a corporação atuou com imparcialidade, mas de forma firme diante da violência. Ela ainda reconheceu que atos anteriores já registraram “retórica anti-muçulmana e cânticos ofensivos por uma minoria”.
Imigração como centro da disputa
A mobilização ocorreu em meio ao aumento da pressão sobre a política migratória britânica. Para apoiadores como Sandra Mitchell, presente no ato, a pauta é central: “Queremos nosso país de volta, queremos nossa liberdade de expressão de volta nos trilhos. Eles precisam parar a migração ilegal para este país. Nós acreditamos no Tommy”, afirmou.
A questão migratória se tornou o principal tema da política doméstica, eclipsando preocupações econômicas. Só neste ano, mais de 28 mil pessoas atravessaram o Canal da Mancha em pequenas embarcações, número recorde que alimenta a retórica nacionalista.
Repercussão e limites políticos
Mesmo com a expressiva mobilização, o partido Reform UK, maior sigla anti-imigração do país, manteve distância de Robinson, que acumula condenações criminais. O contraste expõe os dilemas da direita radical britânica: enquanto figuras marginais capitalizam insatisfações populares, partidos institucionais calculam os riscos de associação.
O apoio de Elon Musk, que já havia dado respaldo público a movimentos da extrema-direita na Alemanha, insere a manifestação britânica em um circuito internacional de mobilizações contra imigrantes e governos progressistas. O episódio reforça a percepção de que o Reino Unido tornou-se um dos epicentros do embate entre nacionalismo radical e instituições democráticas.