Justiça dos EUA prepara ofensiva contra fundação de George Soros
Departamento de Justiça, sob gestão de Pam Bondi, orienta promotores a investigar a Open Society Foundations
247 - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, liderado pela procuradora-geral Pam Bondi, orientou ao menos seis escritórios de promotores federais a elaborar planos para investigar a Open Society Foundations, rede de filantropia criada pelo bilionário George Soros. A informação foi revelada pelo The New York Times, que teve acesso a uma cópia do memorando interno enviado às procuradorias.
Segundo o jornal, a ordem partiu de um alto funcionário do departamento e lista possíveis acusações contra a entidade, que vão desde incêndio criminoso até apoio material ao terrorismo. O documento sugere que os líderes da pasta estariam executando instruções diretas do presidente Donald Trump, em um rompimento com décadas de prática que buscavam blindar o órgão de interferências políticas.
Pressão presidencial e alvos políticos
No último fim de semana, Trump intensificou cobranças públicas para que Pam Bondi agisse contra adversários de longa data, como o ex-diretor do FBI James Comey e a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, responsável por ações milionárias contra o atual presidente e suas empresas. Agora, o foco se volta novamente a Soros, que há décadas apoia causas progressistas e se tornou alvo recorrente da direita americana.
Após o assassinato do ativista de direita Charlie Kirk em Utah, neste mês, Trump ameaçou usar a máquina estatal para “silenciar” manifestantes liberais e financiadores de organizações progressistas. Em entrevista à NBC News, afirmou que Soros é “um cara mau” que “deveria estar na prisão”.
Base das acusações e reação da fundação
O memorando, assinado pelo advogado Aakash Singh, recomenda que promotores em estados como Califórnia, Nova York, Illinois e Maryland avaliem acusações como associação criminosa, fraude eletrônica e financiamento ao terrorismo. O texto cita um relatório do Capital Research Center, entidade conservadora que monitora financiamento político, segundo o qual a fundação teria destinado mais de US$ 80 milhões a grupos ligados a atividades extremistas — incluindo a organização palestina al-Haq, classificada por Israel em 2022 como fachada para o terrorismo. À época, a Open Society criticou a decisão israelense, alegando falta de provas e tentativa de silenciar grupos de direitos humanos.
O porta-voz do Departamento de Justiça, Chad Gilmartin, defendeu a iniciativa: “Este DOJ, junto com nossos dedicados procuradores, sempre priorizará a segurança pública e investigará organizações que conspirem para cometer atos de violência ou outras violações da lei federal”.
A Open Society Foundations rebateu as acusações em comunicado: “São ataques politicamente motivados contra a sociedade civil, destinados a silenciar discursos que a administração discorda e a enfraquecer o direito constitucional à liberdade de expressão”. A entidade afirmou ainda que suas atividades são “pacíficas e legais” e que seu trabalho no país visa “fortalecer a democracia e defender liberdades constitucionais”.
Contexto político e reação liberal
A ofensiva contra Soros ocorre em meio a um cenário político acirrado. Em agosto, Trump já havia sugerido em rede social que Soros e seu filho deveriam ser processados sob a lei RICO, geralmente usada contra a máfia, por suposto apoio a protestos violentos.
Na semana passada, a Open Society se uniu a mais de cem fundações liberais para condenar a violência política e repudiar tentativas de criminalizar sua atuação. “As organizações não devem ser atacadas por cumprir suas missões ou expressar seus valores”, dizia a carta conjunta. No mesmo período, a família Soros anunciou a doação de US$ 10 milhões a campanhas democratas para redesenho de distritos eleitorais na Califórnia, parte da disputa nacional pelo controle do Congresso.