Israel pode provocar desastre nuclear no Irã com ataques a usinas
Agência Internacional de Energia Atômica manifesta 'profunda preocupação' e alerta para chance de 'vazamento radiológico com sérias consequências'
247 - A recente série de ataques aéreos israelenses contra infraestruturas nucleares no Irã despertou forte preocupação internacional quanto à possibilidade de uma catástrofe radioativa. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), principal órgão de fiscalização nuclear do planeta, classificou como “profundamente preocupantes” os bombardeios realizados contra instalações de enriquecimento de urânio e laboratórios nucleares iranianos.
Em declaração feita nesta terça-feira (17), o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou que os bombardeios ampliam consideravelmente “a chance de um vazamento radiológico com sérias consequências para as pessoas e o meio ambiente”. A informação foi publicada pelo Financial Times e repercutida pela Folha de S. Paulo. Segundo ele, apesar de os alvos mais sensíveis, como reatores ativos e usinas de geração de energia, não terem sido atingidos, os riscos ainda são significativos.
Danos detectados e contaminação controlada - As inspeções realizadas pela AIEA ao longo da semana identificaram que as instalações subterrâneas de enriquecimento de urânio em Natanz e estruturas auxiliares na superfície, como uma planta piloto de combustível, foram atingidas pelos ataques. Houve registro de contaminação localizada, mas, conforme Grossi, os níveis de radiação fora do complexo permaneceram estáveis e “em níveis normais”, não representando, até o momento, ameaça externa à população ou ao meio ambiente.
A radiação detectada está associada principalmente a partículas alfa, que, segundo Grossi, “podem ser efetivamente gerenciadas com proteção adequada”, como o uso de equipamentos respiratórios. Esse tipo de radiação representa risco apenas quando inalado ou absorvido pelo organismo, já que sua ação não atravessa a pele humana.
Outros complexos nucleares, como a usina de Isfahan, também foram alvos de mísseis, mas não apresentaram alteração nos níveis de radiação. Já os centros de Fordow e Khondab, onde há um reator de água pesada em construção, não foram atingidos.
O que poderia gerar uma contaminação grave? - Especialistas explicam que o urânio, em estado natural ou enriquecido, não representa grande risco radioativo, salvo quando submetido à fissão nuclear – processo que ocorre em reatores ou armas atômicas. Nesses casos, os produtos gerados, como iodo e césio radioativos, têm alta periculosidade, pois penetram a cadeia alimentar e acumulam-se nos organismos vivos.
De acordo com Jim Smith, professor da Universidade de Portsmouth, "a contaminação radioativa muito grave está geralmente associada a outros elementos, como o iodo radioativo ou o césio radioativo, que são produtos da fissão nuclear”. Esses elementos foram os responsáveis pelos efeitos devastadores do acidente nuclear de Chernobyl, em 1986.
Subterrâneos protegidos, mas depósitos vulneráveis - Um fator de contenção relevante é que os principais centros nucleares iranianos, como Natanz e Fordow, têm estruturas enterradas, protegidas por camadas de concreto e terra. Isso, segundo Simon Bennett, da Universidade de Leicester, dificulta a destruição total desses locais e minimiza a chance de vazamentos externos. “É improvável que haja contaminação significativa além dos limites do local”, afirmou.
No entanto, há preocupação com depósitos de urânio altamente enriquecido localizados em Isfahan. A AIEA informou que, nesse centro, foram atingidas estruturas como o laboratório químico central, a planta de conversão de urânio e uma instalação de metalurgia ainda em construção.
Riscos químicos e gases tóxicos - Além da preocupação com a radiação, os cientistas alertam para um risco potencialmente mais imediato: o da contaminação química. Um dos principais perigos está associado ao hexafluoreto de urânio, substância usada no processo de enriquecimento nuclear. Em contato com a água – inclusive a umidade do ar – essa substância libera fluoreto de hidrogênio, um gás corrosivo e altamente tóxico.
De acordo com a AIEA, é possível que compostos como hexafluoreto de urânio, fluoreto de uranila e fluoreto de hidrogênio tenham sido liberados nas instalações de Natanz. O cenário remete ao acidente de 1986 em uma planta de conversão em Oklahoma (EUA), que causou a morte de um operário e contaminou solo e água ao redor por quilômetros.
Um precedente perigoso - A legislação internacional é clara ao condenar ações militares contra instalações nucleares destinadas a fins pacíficos. A própria AIEA já havia afirmado anteriormente que esses ataques violam normas do direito internacional e os princípios da Carta das Nações Unidas. Tanto Israel quanto Irã são signatários da agência.
O governo israelense alega que o programa nuclear iraniano esconde objetivos militares, enquanto Teerã nega buscar o desenvolvimento de armamento atômico. Na semana passada, o conselho da AIEA acusou o Irã de violar suas obrigações de não proliferação nuclear — a primeira vez que isso ocorre em duas décadas.
O episódio reacende preocupações globais, que já haviam sido intensificadas em 2022, quando tropas russas tomaram a usina de Zaporíjia, na Ucrânia. À época, a AIEA destacou tratar-se da primeira vez que um conflito militar atingia diretamente uma grande instalação de energia nuclear.
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