Israel mantém fronteira de Rafah fechada e aumenta pressão sobre Gaza
Decisão reforça crise humanitária e expõe fragilidade do cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos
247 – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo (19) que a passagem de Rafah, entre Gaza e Egito, permanecerá fechada por tempo indeterminado. A decisão foi divulgada pela agência Reuters e contraria anúncio feito horas antes pela embaixada palestina no Egito, que informara que o ponto de fronteira seria reaberto na segunda-feira.
Netanyahu condicionou a reabertura à entrega, pelo Hamas, dos corpos de reféns israelenses mortos. Esse impasse ocorre em meio à troca de acusações entre Israel e o grupo palestino sobre supostas violações do cessar-fogo negociado com mediação dos Estados Unidos.
O Departamento de Estado dos EUA declarou que recebeu “relatos confiáveis indicando uma violação iminente do cessar-fogo por parte do Hamas”, com um possível ataque contra civis palestinos. “Se o Hamas prosseguir, medidas serão tomadas para proteger o povo de Gaza”, disse o governo. O Hamas rejeitou as acusações, afirmando que não há “ataque iminente” nem violação do acordo. Segundo o grupo, Israel estaria financiando “gangues criminosas” responsáveis por sequestros, assassinatos e saques dentro do enclave. “O movimento pede à administração dos EUA que pare de repetir a narrativa enganosa da ocupação”, declarou.
O Hamas acusou Netanyahu de descumprir o acordo ao manter o bloqueio de Rafah, afirmando que isso impede a entrada de equipamentos necessários para localizar corpos de reféns israelenses soterrados sob os escombros dos bombardeios. Israel afirma já ter recebido 12 dos 28 corpos prometidos pelo Hamas sob o acordo de troca de reféns e prisioneiros.
A crise humanitária segue se agravando. A passagem de Rafah, principal porta de entrada de ajuda humanitária, está praticamente fechada desde maio de 2024. Embora o cessar-fogo tenha aumentado a entrada de alimentos, cerca de 560 toneladas por dia ainda representam um volume insuficiente para a população, que enfrenta fome generalizada, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU. Hospitais seguem colapsados, e quase todos os habitantes de Gaza foram forçados a abandonar suas casas.
O cessar-fogo faz parte do plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar a guerra. A libertação dos 20 reféns israelenses vivos, em troca de quase 2.000 palestinos presos em Israel, foi uma das etapas do acordo. No entanto, questões estruturais permanecem sem solução: o desarmamento do Hamas, a criação de uma força internacional de segurança, a governança civil de Gaza e o reconhecimento de um Estado palestino.
Israel acusa o Hamas de atrasar a entrega dos corpos dos reféns mortos. Já o Hamas diz que a devastação causada pelos bombardeios dificulta encontrar os restos mortais e cobra que Israel devolva 360 corpos de palestinos mortos por suas forças.
Com Gaza em ruínas, bairros destruídos e infraestrutura colapsada, organizações internacionais alertam que qualquer ruptura no cessar-fogo poderá resultar no colapso definitivo da região e na morte de milhares de civis que dependem de ajuda emergencial.

