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      Israel avalia anexar Cisjordânia em reação a reconhecimento do Estado palestino

      Medida seria resposta à decisão de países ocidentais de oficializar a criação da Palestina

      Colonos judeus observam assentamento de Kokhav Hashahar, na Cisjordânia ocupada, durante uma missão de reconhecimento para encontrar novos topos de colinas para colonizar, 6 de novembro de 2022 (Foto: RONEN ZVULUN/REUTERS)
      Paulo Emilio avatar
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      247 - Israel estuda a possibilidade de anexar partes da Cisjordânia ocupada como resposta ao movimento de países ocidentais que planejam reconhecer oficialmente o Estado palestino em setembro, segundo informações divulgadas pela CNN. A iniciativa, que ainda está em discussão dentro do governo israelense, ocorre diante da sinalização de apoio de nações como França, Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido à criação de um Estado palestino — decisão que se somaria ao reconhecimento já feito por mais de 140 países. 

      De acordo com autoridades israelenses ouvidas pela reportagem, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu iniciou conversas preliminares sobre o tema na semana passada. No entanto, a proposta ainda não foi detalhada no gabinete de segurança, e nenhuma decisão oficial foi tomada até o momento.

      Israel conquistou a Cisjordânia da Jordânia em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, e desde então mantém assentamentos judaicos na região, contrariando determinações do direito internacional. Os palestinos reivindicam a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza como territórios fundamentais para a criação de seu futuro Estado, demanda apoiada pela maior parte da comunidade internacional.

      Entre as opções em estudo por Netanyahu, está a anexação parcial de blocos de assentamentos ou do Vale do Jordão, região estratégica ao longo do rio Jordão. Outra alternativa seria uma anexação mais ampla, abrangendo a chamada Área C, que corresponde a 60% da Cisjordânia e está sob controle militar e administrativo de Israel, conforme estabelecido pelos Acordos de Oslo na década de 1990.

      Segundo a reportagem, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, teria informado ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, sobre os planos de anexação. Apesar disso, fontes ligadas ao governo israelense afirmam que Washington ainda não deu aval à medida.

      Duas autoridades israelenses destacaram que a anexação do Vale do Jordão teria maior apoio da opinião pública interna, além de poder ser apresentada como uma necessidade de segurança, argumento considerado mais aceitável para a comunidade internacional. Ainda assim, a iniciativa representaria uma violação de resoluções do Conselho de Segurança da ONU e poderia gerar forte reação diplomática.

      O debate sobre a extensão da anexação divide o governo e os aliados de Netanyahu. Enquanto setores mais à direita, como os ministros Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir, defendem a aplicação plena da soberania israelense sobre todos os territórios não habitados por palestinos, outros consideram uma abordagem gradual.

      Omer Rahamim, diretor do Conselho Yesha, que representa os assentamentos judaicos na Cisjordânia, declarou à reportagem que a anexação é vista como uma medida preventiva. “Ao aplicar a soberania, impediremos o estabelecimento de um Estado palestino, pois é impossível estabelecer um Estado no território soberano de outro país”, afirmou. Ele acrescentou que limitar a soberania a alguns blocos de assentamentos criaria “um estado terrorista — outra Gaza no coração do país”.

      Diante da pressão internacional, Netanyahu avalia um plano de anexação em fases, que poderia ser interrompido em troca de avanços diplomáticos, como a normalização das relações com a Arábia Saudita. O governo saudita, no entanto, já declarou que só aceitará normalizar os laços com Israel mediante compromissos concretos em relação à criação de um Estado palestino.

      A última vez que Israel cogitou a anexação da Cisjordânia de forma concreta foi em 2020, quando Netanyahu recuou após o avanço dos Acordos de Abraão, que levaram à aproximação diplomática com Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos.

      Além da possível anexação, Israel também estuda sanções contra a Autoridade Palestina, que governa parte da Cisjordânia, e a retirada de comunidades palestinas como a vila de Khan Al-Ahmar. Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram que negarão vistos a autoridades palestinas que planejam participar da Assembleia Geral da ONU, onde o presidente francês Emmanuel Macron deve anunciar oficialmente o reconhecimento da Palestina.

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